as dificuldades no mercado imobiliário são cada vez mais evidentes. com a falta de crédito bancário e de compradores de habitação própria, muitos proprietários preferem vender a casa a desconto, para não correrem o risco de ficarem com o imóvel nas mãos. uma análise do sol às avaliações bancárias em 2010 mostra que o preço das casas está a descer em 75% do território nacional.
as contas basearam-se em médias das avaliações bancárias de quase 70 cidades e localizações do país, publicadas pelo instituto nacional de estatística. segundo este organismo, os preços das casas no total do país caíram 3,2%, em dezembro do ano passado, mas o mercado não é linear ao longo do território. a queda mais significativa ocorreu em beja, onde o valor das habitações deslizou 12,4%. seguem-se três cidades do centro: figueira da foz, abrantes e tomar, com quedas entre 7,2% e 9,4%.
nestes casos, um proprietário de uma casa comprada por 100 mil euros pode estar a braços com uma perda potencial entre sete e 12 mil euros. «em algumas das zonas houve, de facto, um ajustamento natural dos preços praticados no mercado», admite o director-geral da imobiliária era, miguel poisson. embora haja casos de subidas nos preços das casas – na guarda, por exemplo, o preço por metro quadrado avançou 11,8% –, a tendência geral é de descida. «há uma situação transversal a várias zonas do país: os proprietários estão obviamente condicionados e disponíveis para rever em baixa os preços das casas porque, acima de tudo, pretendem garantir que conseguem vender as casas», explica o gestor.
este fenómeno é visível em cidades como odivelas, loures ou amadora, cujo preço por metro quadrado regista quedas superiores a 5%, segundo as contas do sol. como explica joão nuno magalhães, director-geral da cbre porto e responsável pelo segmento residencial do grupo, «os preços têm vindo a sofrer um correcção mais significativa na periferia das grandes cidades e nos segmentos mais baixos».
nos centros das cidades «há procura para imóveis com boa localização e boa qualidade de construção e acabamentos», pelo que os preços conseguem escapar a desvalorizações mais acentuadas.
no centro de lisboa, há apenas uma zona com uma descida mais significativa no preço por metro quadrado. trata-se das avenidas, que inclui freguesias como alvalade, campo grande, coração de jesus, nossa senhora de fátima, são joão de deus, são jorge de arroios e são sebastião da pedreira. embora as avaliações bancárias tenham de ser analisadas com alguma prudência – trata-se de médias que escondem disparidades entre tipologias e zonas específicas, além de serem uma forma de os bancos cortarem a concessão de crédito –, mostram o sentimento geral do mercado. e o centro das cidade permanece como um refúgio em termos de preços.
descida vai continuar
as perspectivas do mercado para este ano continuam a ser de retracção de preços. com as restrições no financiamento bancário e a incerteza dos compradores quanto ao seu emprego, joão nuno magalhães antecipa ainda «alguma correcção» de preços. miguel poisson, por seu turno, realça que as dificuldades em vender ou comprar casa poderão até dinamizar o sector da mediação imobiliária.
joao.madeira@sol.pt