Juntar os trapos para fazer patchwork

‘Fazer patchwork é como pintar um quadro com tecidos’, diz Paula Ferreira

pede perdão, diz que anda sempre assim, «num corre-corre». mais um telefonema, uma afinação na máquina de costura, um conselho a uma cliente.

final do dia, dia de semana, a porta abre num vaivém constante. longe vão as tardes às moscas, dez anos atrás, quando só entravam estrangeiros na arco-íris a metro. «nessa altura ninguém aqui sabia o que era patchwork», recorda paula parreira, 43 anos, sobre o hobby que trouxe dos eua, onde viveu durante 26 anos.

mal regressou a portugal, saiu à procura de um tecido 100% algodão preto que lhe faltava para um quilt (manta de retalhos). «corri tudo o que havia na baixa lisboeta e não encontrei nada!», conta. chegou a casa e resolveu procurar na internet uma loja de patchwork portuguesa. «não existia». foi então que paula teve a certeza de que o regresso à terra natal passaria pela divulgação desta arte aportuguesada como ‘trapologia’.

«apesar de ter sido aperfeiçoada pelos americanos, não é algo que nos seja de todo desconhecido. temos na nossa história muito aproveitamento de trapinhos» comenta, recordando que a arco-íris a metro «foi durante sete anos a única loja de patchwork em portugal».

através da divulgação na internet e em revistas de costura, do simples passa-palavra e de um sem-fim de workshops dados de norte a sul do país, paula diz que a persistência valeu a pena: hoje as clientes são mais portuguesas que estrangeiras, «até vêm do porto e do algarve para visitar a loja» e uma e outra aluna acabaram por abrir as suas lojas também. «tenho esperança de que abram muitas mais dentro dos próximos anos».

as mais de mil peças de tecido à disposição na loja e através do site (ver caixa) vêm especialmente dos eua e do japão e são 100% algodão. «são parecidas às chitas portuguesas, só que a gramagem é igual à de um lençol muito bom», explica, lamentando a fraca indústria têxtil lusa: «as fábricas têm vindo a fechar e parece que não percebem que o mercado existe, apenas mudou». este mercado, segundo paula, pede mais variedade: «as chitas de alcobaça variam apenas entre três, quatro cores. no estrangeiro fazem-se muitas mais combinações a partir do mesmo coordenado, vêm em série e permitem- -nos pintar um quadro com esses tecidos».

além dos panos, há livros e revistas especializadas, bases de corte, réguas e cortadores, máquinas de costura e o essencial de uma retrosaria. tudo o que é necessário para fazer patchwork, até aulas regulares.

daí que a arco-íris a metro se assemelhe a um ateliê – não é raro ver as clientes entrar para tirar uma dúvida e acabarem a costurar num canto. paula diz que são como amigas, tantas as histórias contadas através de retalhos.

aisha.rahim@sol.pt

arco-íris a metro; praceta gomes leal, 30 c laranjeiro – almada tel. 212 596 135 arcoirisametro.com; arcoirisametro.blogspot.com