Metro atrasado 14 anos e cada vez mais caro

Encargos do Metro do Mondego dispararam de 55 para 450 milhões de euros.

o metro do mondego tem viajado por linhas tortas. começou por ser em 1993 um projecto de transporte ferroviário suburbano avaliado em 55 milhões. mas, 18 anos e cinco primeiros-ministros depois, transformou-se numa rede de metropolitano de 450 milhões de euros, ao nível de cidades europeias como valência ou lausanne.

a inclusão do centro de coimbra na rede suburbana original, a falta de coordenação entre as várias entidades envolvidas, as expropriações ruinosas e as estações mais caras ajudam a explicar esta subida de 395 milhões de euros – valor que daria para a construção de quatro hospitais.

no caso de algumas das 44 estações previstas, por exemplo, existiam orçamentos de quatro milhões de euros apenas para a respectiva cobertura e chão. em termos gerais, o custo médio de cada estação mais do que duplicou face ao projecto inicial. este é um dos custos onde o ministério das obras públicas, ao que o sol apurou, pretende cortar de forma severa.

o mesmo vai acontecer com o número de gestores do projecto. a empresa metro do mondego tem 12 trabalhadores, sete dos quais são administradores – que, somadas todas as remunerações e regalias, custam cerca 320 mil euros anuais (dados de 2009). além disso, todos os administradores desempenham funções remuneradas noutras empresas e instituições – isto é, não são administradores em exclusividade.

a falta de planeamento do projecto (característica comum a muitas obras públicas portuguesas) tem o seu máximo exemplo nas expropriações e demolições que a metro mondego já realizou e pagou. por um lado, tiveram que ser realizadas demolições em mais de 30 edifícios do centro de coimbra, cujo custo ficou muito acima do previsto. por outro lado, as alterações de traçado e as demolições não previstas ou erradamente decididas – como a de uma casa do séc. xvii – levaram a despesas extraordinárias de montantes muito significativos.

metro obrigado a expropriar bragaparques

em termos de falta de coordenação, pode-se dar o exemplo do caso do largo da olaria, situado na baixa da cidade, por onde passa a linha do metro. a câmara de coimbra, accionista da empresa do metro, vendeu por 3,7 milhões de euros o largo em regime de propriedade plena à bragaparques e a um empreiteiro local – que, por sua vez, revendeu mais tarde a sua parte à sociedade de domingos névoa. contudo, a autarquia não assegurou na escritura de compra e venda realizada em 2004 a constituição do direito de superfície. apenas foi assegurada a utilização pública da praça. resultado: a empresa metro do mondego terá que expropriar a bragaparques.

metro previsto para 1997

os atrasos na conclusão do empreendimento são outra causa da derrapagem financeira e começaram logo à nascença. o governo de cavaco silva autorizou a criação da empresa do metro em 1993. contudo, a sociedade metro do mondego sa só foi formalizada três anos depois – o que obrigou ao primeiro de muitos adiamentos das obras.

a data original para a inauguração era 1997, mas chegou o ano de 1999 e o metro ainda estava no papel. «o metro do mondego irá circular em 2000», prometeu o então edil de coimbra, manuel machado.

mas o ano de 2000 já se esgotava quando o presidente da smm, albertino de sousa, prometeu: «se tudo correr dentro do previsto, as obras ficam concluídas em 2004, o mais tardar». pelos vistos, não correu tudo dentro do previsto. nessa altura, a previsão do custo total já tinha disparado para 130 milhões de euros, devido à integração da linha urbana de coimbra.

2014 é a nova data

«nem consigo explicar estas mudanças todas. é a bronca total», atira carlos encarnação, ex-presidente da câmara municipal de coimbra, que se demitiu em dezembro do ano passado. as promessas falhadas do governo sobre o metro do mondego foram a gota de água. «foram tantas situações destas que eu fiquei farto de tudo! foram efectuadas demolições de prédios, expropriações, e o planeamento da cidade foi sempre condicionado pelo metro. há anos que está uma cratera enorme no centro de coimbra devido ao metro», afirmou ao sol.

poucos dias antes da demissão de encarnação, o governo tinha ordenado a suspensão do projecto do metro. isto apesar de já terem sido levantados 30 km de carris da linha de comboio entre serpins e o alto de s. joão (a linha suburbana). os habitantes da região agora não têm nem comboio, nem metro. «é uma vergonha o que está a acontecer», acusa a deputada carina joão (psd).

a população veio para a rua protestar. o governo cedeu. o ministério das obras públicas garante agora que o metro estará nos carris em 2014 e comprometeu-se a lançar o concurso para as obras entre são josé e a portagem (cinco estações no centro de coimbra). esta semana foi formada uma comissão com as autarquias e com o governo, para «se encontrarem soluções de redução», explica fonte do executivo de josé sócrates.

75 milhões de euros em risco de se perderem

desde 1997 já foram gastos 55 milhões de euros, segundo álvaro maia seco, presidente demissionário do metro do mondego. mas, apesar de o projecto estar em dúvida, os custos continuam a crescer. «este montante pode chegar aos 75 milhões de euros, porque as obras continuam», explica o socialista horácio antunes, ex-governador civil.

em vigor estão os contratos das infra-estruturas entre serpins e são josé. a rescisão destes contratos levará inevitavelmente, como maia seco já admitiu, ao pagamento de indemnizações.

 

sol/lusa