com a revolução tranquila, para já na tunísia, o mundo ocidental aplaudiu o contágio egípcio. a hora do ditador mubarak está a chegar e o povo na rua é sinónimo de democracia. muitos aguardam que o mesmo se venha a passar noutros países vizinhos e que eleições democráticas sejam uma realidade em breve.
estou no lado daqueles que não acreditam que tal seja possível nos próximos tempos. no egipto, onde há milhões de pessoas a viver no limiar da miséria mais absoluta, e que têm como tecto de casa as portas dos cemitérios, não será difícil aos fundamentalistas conquistarem adeptos para a sua causa. as classes desprotegidas serão muito mais facilmente encantadas com as promessas divinas do que com o chamamento democrático, algo que nem sabem bem o que é. num mundo perfeito, os ditadores dariam lugar a democracias. no mundo islâmico, o fim de um regime costuma dar lugar a outro mais extremista. não é por acaso que a irmandade muçulmana já começou a marcar território e, apesar de muitos ocidentais não acreditarem que possam vencer as eleições, o certo é que terão um papel fundamental na transição.
basta olharmos para o que se passou e passa no iraque. os americanos e seus aliados entenderam que saddam era um perigoso ditador que tinha armas de destruição maciça e que era preciso afastá-lo do poder para instituir uma democracia. além dos disparates cometidos, não perceberam que o poder só podia ser ‘combinado’ com os senhores tribais, por forma a manter os equilíbrios. hoje o iraque, apesar de não registar os índices de atentados de há poucos anos, é ainda um barril de pólvora e a democracia continua a ser uma miragem. por todo o lado há grupos de diferentes etnias que se combatem entre si.
sendo a irmandade muçulmana constituída por sunitas, é natural que venham a combater os xiitas e que tudo façam para recusar a democracia. afinal, foram os povos democráticos que alimentaram durante 30 anos mubarak no poder. acredito que mais facilmente outros ditadores africanos acabem por ser derrubados, sendo, no entanto, substituídos por fundamentalistas, do que a democracia entre em vigor no egipto e nos países que seguirem o mesmo exemplo. bin laden, onde quer que esteja, deve estar a esfregar as mãos de contentamento. primeiro foi o iraque, país que não nutria grande simpatia por ele. agora foi a vez de o amigo egípcio dos americanos ser acossado. esperemos que aqueles que investiram tanto na manutenção de mubarak invistam o mesmo ou mais para melhorar a vida desses povos. se não o conseguirem, é certo que os fundamentalistas arregimentarão mais uns milhões para a causa.