Presidente dado a conversas

Quando, em Maio de 2010, a palavra crise passou a fazer parte do vocabulário diário dos portugueses, Aníbal Cavaco Silva apressou-se a ouvir vários ex-ministros de diferentes alas políticas para saber as suas preocupações quanto ao rumo do país.

aplaudido por uns e criticado por outros, por ter excedido as suas funções de presidente da república e interferir na governação, voltou agora a repetir a iniciativa. desta vez, e com o ‘fantasma’ da intervenção do fmi e da união europeia a pairar sobre portugal, o professor catedrático de finanças quis ouvir, individualmente, o governador do banco de portugal e os principais banqueiros do país.

conhecido por falar ‘cavaquês’ e passar mensagens nas entrelinhas, deu o seu primeiro salto político como ministro das finanças de sá carneiro, no governo da ad. nascido em boliqueime, algarve, aos 70 anos é um forte opositor de grandes investimentos públicos, apesar de ter ficado conhecido como o ‘pai do betão’, quando era primeiro-ministro (1985-95). apontado como um conservador e despojado de bens materiais, vive há mais de 30 anos no apartamento da travessa do possolo, em lisboa, onde não tem sequer aquecimento central, segundo o próprio.

mas não abdica da casa de férias, que até trocou por uma melhor em 1998, tendo pago menos imposto de sisa do que deveria. o acerto de contas só agora foi feito. de modos secos, às vezes até rudes – recorde-se o episódio de quando comia bolo rei enquanto falava com jornalistas – é pouco dado à cultura, apesar de ser casado com uma professora de letras, que sempre o acompanha nas lides políticas. recentemente eleito para o segundo mandato como presidente – depois de uma atribulada campanha, com o bpn a ‘morder-lhe os calcanhares’ –, é a sua família quem está sempre no centro das atenções de cavaco silva.