CP contrata empresa de funcionário da Mota-Engil

A empresa pública CP Carga contratou por ajuste directo a Consultinterest, uma empresa de um alto funcionário da Mota-Engil, para prestar serviços de comunicação. A contratação assume contornos originais pelo facto de o grupo Mota deter, desde 2008, a única concorrente daquela participada da CP: a Takargo Rail.

o contrato foi assinado em setembro por almeida soares, presidente da cp carga, visa igualmente o serviço de manutenção do website da empresa e implica o pagamento de quatro mil euros mensais à consultinterest. trata-se de uma sociedade unipessoal, cujo capital social é detido a 100% desde junho de 2009 por antónio capinha, director de comunicação da holding da mota-engil. como único representante legal, foi capinha quem assinou o contrato com a cp carga. aliás, o ex-jornalista, que fundou esta sociedade em 2005, sempre foi o único gerente da sociedade.

contactado pelo sol, almeida soares afirmou que «não tinha, nem tinha que ter» conhecimento de que capinha é funcionário da mota-engil. «nem com isso me preocupei», explica, porque «a cp carga detém cerca de 97% de quota do mercado nacional e 38% do mercado ibérico. e a mota-engil terá, respectivamente, 3% e cerca de 1%. verdadeiramente não existirá concorrência», afirmou. o gestor diz ainda, numa declaração contraditória, que «ainda não sabemos em que empresa do grupo mota trabalha o sr. capinha, sendo que se sabe, contudo, que não é na takargo».

o facto de a cp carga ter sido «exposta negativamente na comunicação social» – imagem que não conseguiu ser combatida pelo_departamento de comunicação da empresa – levou à contratação da agência de capinha. «após a contratação da consultinterest, tudo se está a inverter. e tudo isto com um ganho financeiro (redução de custos) na ordem dos 30 mil euros/ano», diz soares. aliás, o gestor diz mesmo que a «renovação» do contrato de seis meses «é uma séria possibilidade».

em declarações ao sol, capinha negou a existência de qualquer incompatibilidade. isto porque diz ser apenas «sócio de nome»: «a empresa é gerida integralmente pelo director-geral, o meu filho david capinha», afirmou. num contacto posterior, antónio capinha informou o sol de que a sua empresa irá rescindir o contrato com a cp carga.

david capinha, por seu lado, explicou: «desde 2008 que a passagem das quotas da empresa para meu nome tem sido constantemente adiada. na prática, o meu pai não tem qualquer responsabilidade na empresa».

 

assessor desde há longa data
capinha é um colaborador de jorge coelho, líder da comissão executiva da mota-engil, de há longa data, tendo sido seu assessor de imprensa enquanto ministro das obras públicas entre 1999 e 2001. após a demissão de coelho, foi nomeado assessor da representação portuguesa junto da osce, em viena, regressando a portugal quatro anos mais tarde para colaborar na câmara da amadora com o presidente socialista joaquim raposo e no grupo parlamentar do ps. em 2008, foi trabalhar com jorge coelho na mota-engil.

luis.rosa@sol.pt