Sexualidade: A terceira via à chinesa

Num país que descriminalizou a homossexualidade em 1997 e deixou de a considerar, oficialmente, uma doença mental há dez anos, continua a ser mais fácil não sair do armário do que assumir a sexualidade – ainda que se estime haver cerca de 40 milhões de homossexuais na China.

mas uma nova geração de chineses parece ter encontrado uma solução de compromisso: o casamento entre um gay e uma lésbica. e os potenciais noivos já se podem encontrar em eventos próprios.

em xangai, considerada a cidade mais liberal e progressista da china, não faltam bares gay nem quem ostente publicamente a sua preferência sexual. só que assumir para os amigos ou para estranhos é uma coisa – para a família, é outra. casar e ter filhos não é um direito, é uma obrigação. sobretudo para aqueles que são os herdeiros da geração que viveu e protagonizou a revolução cultural (1966-1976), e que seria a pioneira da política do filho único, implementada após a morte de mao tsé-tung.

segundo a sexóloga li yinhe, citada pela revista slate, 80% dos homossexuais chineses casam-se com heterossexuais. esta tem sido a forma encontrada para contentar os progenitores e torná-los avós, numa sociedade em que a família ainda é, verdadeiramente, um pilar. a pressão para formar família é tal que, na china, as mulheres solteiras com mais de 27 anos não são chamadas ‘tias’: são chamadas ‘restos’…

 

a fórmula perfeita
para evitar este cenário de casamentos infelizes e vidas duplas mas, ao mesmo tempo, não dar aos pais o ‘desgosto’ de o seu único filho assumir a sua homossexualidade, começaram a ser organizadas feiras de falsos casamentos nas grandes cidades chinesas, como xangai. são reuniões discretas, em que gays e lésbicas tentam encontrar no sexo oposto o seu par. ambas as partes sabem que a união será uma fachada. é a fórmula perfeita.

fen ye, de 30 anos, homossexual casado com uma lésbica, explicou à slate a importância destes casamentos: «no teu trabalho, na tua vida social e nas reuniões de família, tens de levar alguém. todos esperavam que me casasse. a cerimónia foi como uma tarefa que eu tinha de cumprir». ele e a mulher já falaram em ter um filho. «para ter um bebé, talvez tentemos a inseminação artificial», diz fen, que deixou claro que não existe vida sexual entre ele e a mulher. e que assegura que, se for pai, sairá do armário para o seu filho.

ana.c.camara@sol.pt