porque é que as mulheres, mesmo as mais independentes, precisam tanto de sentir alguma protecção masculina? a antropóloga norte-americana helen fisher acredita que a necessidade de protecção está directamente ligada à evolução da espécie; quando o homem começou a caminhar, ficou com as mãos livres para executar várias tarefas enquanto andava, mas a mulher ficou com os filhos nos braços e, por isso, mais indefesa.
enquanto os nossos ancestrais quadrúpedes, semelhantes aos chimpanzés, viviam nas árvores, as fêmeas transportavam os filhos às costas, ficando com as mãos livres para colher vegetais e frutos. mas quando desceram à planície, ficaram mais desprotegidas e mais sobrecarregadas. helen chega a professar que a vida perigosa nas planícies terá dado origem ao comportamento monogâmico, enquanto hábito humano de formar um casal com um indivíduo, uma vez que este hábito se revelou essencial para a fêmea e cómodo para o macho. este pode arranjar alimento para uma fêmea e uma cria, mas não para um harém. além do perigo que corre por parte dos outros machos que se possam interessar pelas suas fêmeas. e assim nasce a monogamia, há mais de 3,5 milhões de anos?
a teoria é altamente tentadora e helen também defende que no nosso adn pode existir o gene da monogamia, tal como existe nos ratos da pradaria, contrariamente aos seus primos, os ratos da montanha. ora, isto faz todo o sentido quando olhamos à volta e nos apercebemos claramente de quais são os homens – e as mulheres – que se comportam, ou não, de forma monogâmica. embora a monogamia não seja sinónimo de fidelidade, as duas são por vezes irmãs gémeas. existem homens monogâmicos por natureza que são tendencialmente fiéis. e as mulheres gostam deles, porque sabem reconhecer neles essas mesmas características.
voltemos, então, ao mito do che guevara; porque é que as mulheres gostam tanto dele? porque é um herói, um guerreiro, um idealista que esteve sempre do lado dos mais fracos, o que faz dele um homem cheio de encanto e de carácter. mas de que nos serve o che guevara se estiver sempre longe, em vez de proteger o nosso tecto e os nossos filhos e de trazer para casa ao fim do dia parte do sustento e parte da atenção e carinho diários de que se alimenta uma relação monogâmica saudável?
entre o herói corajoso, porém ausente, e um marido próximo e querido, que sabe montar toalheiros eléctricos em meia hora, prefiro o rei da bricolage, o grande senhor do pequeno lar, ao bravo guerreiro que me troca por guerras alheias e causas que não são minhas
o meu herói não precisa de medalhas de mérito por feitos heróicos na guerra; o meu herói é aquele homem que me ouve e me protege, a mim e às minhas crias.
e a monogamia, inscrita ou não no nosso adn, é uma solução inteligente para a humanidade. é com base na monogamia que se criam os laços mais fortes, mais gratificantes e mais duradouros entre um homem e uma mulher, tanto há 3,5 milhões de anos, como agora.