Nas Bocas do Mundo – Muammar Kadhafi

Van Pauteren ficou imortalizado graças à sua gramática polvilhada de tolices e contra-sensos. Quando se diz ‘é um despautério’ está-se a comemorar o flamengo e o seu Comentarii Gramatici.

Despautérios não têm faltado nas últimas horas a propósito da Líbia. Fidelíssimo à teoria a-culpa-é-sempre-da-CIA, Castro já está a ver a NATO invadir o país do Norte de África para se apoderar do gás e do petróleo. Mahmud Ahmadinejad atirou-se contra o coronel Kadhafi por este mandar matar o próprio povo (e aqui compreendemos que os corajosos iranianos que se opõem ao regime dos aiatolas são uma categoria infra-humana para o Presidente). O governante iraniano tenta assim ganhar simpatias na Cirenaica (região leste onde a revolta estalou, de predominância islamista).

E claro, o próprio Muammar al-Khadafi, o militar que pensa ter inventado um sistema político, a república das massas (al-Jamahiriya). Se dúvidas houvesse de que o tiranete é ‘o’ despautério em pessoa, a tentativa de discurso que matraqueou na terça-feira contra o próprio povo desmascarou o autoproclamado rei dos reis africanos. Que seria uma excelente personagem tragicómica num filme como Recordações da Casa Amarela. Na realidade, porém, o hospício do coronel é a Líbia. Há longos 41 anos.