Há dias estava com um grupo de amigos, quase todos mais entradotes do que eu, quando um falou no aniversário do Jamaica. Se alguém tinha ido a uma das festas – a casa tem uma série de noites para comemorar os 40 anos de existência – ou se estava a pensar dar um pulo até lá numa das próximas oportunidades. O que tinha feito a pergunta esteve lá numa dessas ocasiões e comentava que a casa estava tão cheia que era quase impossível entrar ou sair. Enquanto outro dos presentes dizia que era cliente praticamente desde o ano da abertura, fiquei a pensar que não deve ser muito comum uma discoteca comemorar 40 anos. Mais impressionante deve ser o facto de a casa em questão ser daquelas que menos dinheiro gastaram em discos, já que a música é quase sempre a mesma. Pelo menos das última vezes que por lá me aventurei, se fechasse os olhos conseguia recuar uns bons anos no tempo. O Jamaica, para os menos informados, fica na célebre rua do Cais do Sodré e nada tem a ver, há muitos anos, com as decrépitas casas de alterne que ainda resistem ao tempo. Para quem como eu frequentou a zona nos idos anos 80, a coisa dividia-se entre os que iam ao Tokyo e os que frequentavam o Jamaica. Algumas vezes fazíamos piscinas entre uma e outra, mas éramos daqueles que adoravam a boa disposição do João, figura mítica daquela artéria e do Tokyo. Desde que soube da sua morte que não mais tive vontade de andar por lá, mesmo quando algum amigo saudosista dos anos 80 me desafia.
Voltando ao Jamaica, um dos segredos da longevidade do bar-discoteca é precisamente a música, que é exclusivamente rock e reggae. Ou seja, dois dos géneros musicais que melhor resistem ao tempo. Tendo sido fã de tais sonoridades, hoje só por pura diversão e distracção é que frequento essas catedrais. Outro dado curioso, que uma reportagem recente do Público recordava, é que a casa sempre foi um albergue de uma certa esquerda intelectual. Por lá passaram e passam nomes da sétima arte, dos jornais e demais profissões liberais. Também por isso, o Jamaica conseguiu fidelizar uma vasta clientela ao longo de tantos anos.
vitor.rainho@sol.pt