nas três classes profissionais mais expostas ao aumento do preço dos combustíveis, o cenário de contestação nas ruas está cada vez mais próximo. os agricultores deram o ‘tiro’ de partida e, segundo adianta ao sol joão dinis, dirigente da confederação nacional da agricultura (cna), já foi marcada um manifestação nacional para 20 de maio, com uma concentração de agricultores em lisboa. os camionistas fizeram um ‘ultimato’ ao governo até à próxima terça-feira e, se não houver descontos nos combustíveis, parte dos profissionais deve avançar para paralisações. os pescadores são mais prudentes, mas estão «preocupados».
agricultores protestam
o primeiro passo já foi dado. segundo explica joão dinis, o aumento dos custos de produção das explorações agrícolas e a inexistência de medidas de «combate à especulação dos preços» dos combustíveis são um dos motivos na base da manifestação de 20 de maio, a primeira que a cna organiza desde março de 2009.
com o gasóleo agrícola a aproximar-se do recorde de um euro por litro estabelecido em 2008, joão dinis alerta para o agravamento dos custos das explorações familiares. «os agricultores têm de protestar, é uma questão de sobrevivência», alerta, lembrando que as propostas da cna passam pelo aumento dos apoios ao sector, nomeadamente um maior desconto fiscal no gasóleo agrícola.
camionistas ameaçam
para os transportadores de mercadorias, ainda há esperança de que o governo avance com medidas de apoio à actividade. a associação nacional das transportadoras portuguesas (antp) apresentou um pacote reivindicativo ao ministro dos transportes, solicitando uma bonificação no preço do gasóleo, e deu até à próxima terça-feira para que antónio mendonça dê uma resposta.
o ministro afirmou a semana passada no parlamento que o governo tomará as medidas «que se revelarem necessárias» devido à subida do preço dos combustíveis, mas o presidente da antp, artur mota, desconfia da margem de manobra do governante, face às restrições impostas pelas finanças. ao sol, reconhece que, se o governo não der uma resposta uma satisfatória, será «impossível» conter os associados que já querem fazer protestos semelhantes aos de 2008. «não cabe à associação decretar paralisações. cada associado vai decidir o que fazer, mas na última reunião houve um movimento muito forte a defender paralisações», revela.
pescadores preocupados
para quem vive do mar, o aumento do preço dos combustíveis também já está a pesar, embora o cenário de 2008 ainda não esteja à vista. «neste momento, o custo ainda pode ser incorporado pelas empresas», diz ao sol miguel cunha, da associação de armadores das pescas industriais. como as embarcações beneficiam de isenções fiscais nos combustíveis e o preço do gasóleo para os pescadores ainda está 25% abaixo do patamar histórico a que chegou em 2008, não houve ainda interpelação ao governo. contudo, o responsável admite que há «preocupação» no sector. «esperemos que seja uma subida apenas temporária, resultante da instabilidade no médio oriente».
joao.madeira@sol.pt