O obscurantismo professado pela al-Qaeda e pelos talibãs sequestrou os mais básicos direitos humanos dos 180 milhões de paquistaneses (cerca do dobro das populações do Egipto, Tunísia e Líbia juntas). O mais recente capítulo de uma história com todos os argumentos para não ter final feliz deu-se na quarta-feira. Oito balas selaram o destino de Shabaz Bhatti, um corajoso e desalinhado político católico. Enquanto ministro das Minorias defendera de viva voz o fim da lei da blasfémia, que impõe a pena de morte a quem seja acusado de insultar o islão. Dois meses antes, o governador do Punjab foi assassinado pelo próprio guarda-costas pelo mesmo motivo. E ambos haviam saído em defesa de uma cristã, Asia Bibi, condenada à morte por ter alegadamente insultado o profeta Maomé.
Quando nem a própria elite política se escapa deste tribunal do santo ofício que mata e ameaça os «infiéis» (como se podia ler em folhetos encontrados junto ao corpo de Bhatti), que esperar de uma população pobre, radicalizada e sem perspectivas de futuro? Será lirismo imaginar as praças Tahrir do mundo muçulmano cheias para deplorar este crime e, em consequência, o fundamentalismo religioso. Mas seria um inequívoco sinal de esperança na liberdade.