‘O país precário saiu do armário’ [com fotos

No facebook, mais de 60 mil disseram que iam à manifestação da geração precária. Na Avenida da Liberdade, em Lisboa, o número foi claramente excedido, com a ajuda de outras gerações e causas. Jel foi a estrela.

veja as imagens e os rostos do protesto em lisboa

dezenas de milhares de pessoas (ou mesmo 200 mil segundo a organização) desceram esta tarde a avenida da liberdade, em lisboa, respondendo assim ao apelo lançado no facebook por quatro jovens do movimento ‘geração à rasca’. a luta contra a precariedade laboral dominou os slogans, mas esta esteve longe de ser uma iniciativa só de jovens ‘quinhenteuristas’ : pessoas de todas as idades juntaram-se ao protesto, com palavras de ordem contra a austeridade, contra o governo ou os políticos em geral.

«o país precário saiu do armário», «isto assim é uma treta, os recibos para a sarjeta», «chega, basta, de viver à rasca», «submarinos, tgv’s, e eu sem nada ao fim do mês» foram algumas das palavras de ordem lançadas pela organização. entre os manifestantes que empunharam cartazes – e foram muitos – as mensagens eram para todos os gostos: «a dívida não é nossa», «o défice de hoje é o roubo de ontem», «isto não é uma brincadeira de carnaval», «não faço népia, sou político», «sócrates e governo corridos a pontapé», «o povo não precisa de partidos», «eles é que vivem acima das nossas possibilidades».

havia quem apostasse num registo pessoal: «fernando santos, 48 anos, lisboa, desempregado». ou mais irreverente: «i’m too sexy to helena andré». ou ameaçador: «quando já não tiveres nada a perder, o que serás capaz de fazer?» t-shirts, máscaras, vassouras, tudo serviu para uma mensagem de crítica à situação do país. vanda está a meio da avenida, precisamente com uma vassoura na mão: «é para varrer os políticos, tudo o que está mal». à manifestação, vieram três as gerações da família, diz ao sol: «estou cá eu, os meus filhos e os meus netos».

numa iniciativa em que não se viram bandeiras partidárias, a excepção foi para o partido nacional renovador (pnr), de extrema-direita, que desde o início do desfile se ‘colou’ à primeira fila da manifestação, obrigando os precários a puxar pela voz para abafar as palavras de ordem dos nacionalistas. no desfile viram-se assim, lado a lado, tatuagens de suásticas e cravos vermelhos. uma imagem da imensa diversidade dos manifestantes, numa iniciativa que chegou ao rossio de forma pacífica.

com os quatro organizadores a encabeçar o desfile já no destino final, o grosso da coluna estendia-se ainda pela avenida acima, obrigando a primeira coluna a dar várias voltas à praça. finalmente, paula gil e os colegas subiram para cima de uma camioneta e, com a praça já cheia.

o que veio a seguir reforçou a singularidade do protesto. em vez de um discurso, os dois jovens organizadores repetiram slogans e… cantaram. um clássico de zeca afonso (a formiga no carreiro), com letra ajustada, pondo os manifestantes a fazer coro: «o precário no carreiro andava desanimado/ saiu à rua, saiu à rua/ para exigir um contrato».

o único texto lido foi o do manifesto pelo fim da precariedade. entretanto, havia uma pergunta que se repetia: «então e os homens da luta?». depois, o rossio entrou em apoteose com a chegada da carrinha aberta que transportava a dupla jel e falâncio, que afinal tinha vindo a ‘fechar’ a manifestação.

um novo fôlego animou a multidão. jel entra a gritar «puxa para cima a tua energia» e o apelo foi respondido. em várias voltas ao rossio, a carrinha com a trupe dos homens da luta, mais algumas personagens exóticas, e a banda de metais que a acompanhava, fizeram a festa.

na manifestação estiveram presentes deputados do pcp e do be – com predomínio da geração mais nova. garcia pereira também passou pela avenida assim como elementos da jsd.

manuel.a.magalhaes@sol.pt e susete.francisco@sol.pt