Não houve um líder natural da oposição a emergir. Situação similar no Egipto, apesar de o Prémio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei ter tentado capitalizar o momento, e de o executivo da Google Wael Ghonim ter sido aclamado na Praça Tahrir com um herói. No Iémen, pelo contrário, a oposição tem um rosto.
Desde 2007 que Tawakkol Karman se dedica à defesa dos direitos humanos, da promoção do papel da mulher na sociedade iemenita e da liberdade de imprensa. Uma tarefa quase quixotesca no país da península arábica com os mais baixos índices de desenvolvimento, com 40% de desemprego, e onde as ameaças bem reais do separatismo e da al-Qaeda estilhaçam uma sociedade já de si dividida em tribos. E que ainda trata a mulher como um ser inferior, condenada em criança a casar-se e a sofrer todo o tipo de violência. Tendo como referências Luther King, Gandhi e Mandela, a activista e jornalista de 32 anos tem usado as redes sociais e o telemóvel para apelar à revolta pacífica. Ameaçada de morte pelos homens do ditador Saleh, detida e entretanto libertada, Tawakkol – ela própria se libertou entretanto do véu integral – não mostra uma gota de medo. «Vamos continuar com os protestos até que a opressão termine no Iémen e o povo seja livre para usufruir os direitos humanos», prometeu em Junho. E tem cumprido. Só que, dado o efervescente caldeirão iemenita, o sonho da activista em derrubar Saleh pode transformar-se em pesadelo.