Dramas com música

A noite não se fez para se falar de desgraças, mas é muito bom saber que tudo está bem.

No sábado, quem fosse deste mundo já teria visto dezenas de imagens sobre o que se estava a passar numa terra muito distante. Em todos os noticiários televisivos, nos jornais e em blogues, a conversa girava em torno do terramoto e do tsunami que arrasaram o Japão. Algumas mentes mais distraídas, no entanto, não se terão apercebido da calamidade, já que esta nada tinha a ver com assuntos tão profundos como roupa, maquilhagem ou jóias. Quanto a nós, era impossível continuarmos alheados: no final do jantar, um amigo recebeu uma chamada de um pai preocupado com a filha, que estava numa visita de estudo e tinha avião marcado para duas horas depois do início da tragédia. Embora a jovem se encontrasse a salvo em Tóquio no momento fatídico, a preocupação do pai era evidente, já que o voo fora adiado dois ou três dias. Enquanto comentávamos a aflição do progenitor, dissertámos sobre o facto de haver tantas pessoas que vivem alheadas da realidade e que pouco se importam com o que se passa no mundo. É fácil perceber isso quando se sai à noite, se fazem algumas perguntas e se recebe como resposta uma cara meio atrapalhada, meio envergonhada e que termina com um ‘sei lá do que estão a falar!’. É razão suficiente para um cartão vermelho.

Umas horas depois desta conversa, quando já nos encontrávamos numa discoteca, apareceu um dos simpáticos empregados com um ar bastante feliz. Indaguei a razão de tanta euforia. «Acabei de saber que os meus familiares e amigos estão bem e não sofreram com o tsunami». Fiquei um pouco perplexo porque nem sequer tinha associado a sua fisionomia à terra do Sol Nascente. A noite tinha começado com uma conversa sobre a tragédia e acabava da mesma maneira. Uma coincidência improvável, mas que tornou a saída mais simpática, até porque havia boas notícias. Quando se decide sair à noite procura-se diversão e tenta-se deixar os problemas para trás. Não há maior chatice do que estar num bar ou discoteca e alguém não parar de falar em dramas por mais pequenos que sejam. Essas são questões para outros locais. Ver alegria nos rostos das pessoas de que gostamos é o melhor medicamento anti-stress do mundo.

vitor.rainho@sol.pt