Nas Bocas do Mundo – Silvio Berlusconi

Itália fez na quinta-feira 150 anos: Vítor Emanuel II foi proclamado rei, dando seguimento às lutas pela unificação protagonizadas por Giuseppe Garibaldi, Giuseppe Mazzini e pelo conde de Cavour. Em abono da verdade, a data é sobretudo simbólica, uma vez que Roma só foi integrada na união nove anos depois.

Para comemorar a data redonda, centenas de milhar de pessoas saíram às ruas. Mas o momento não é o mais dado a euforias. Além dos problemas estruturais – a ‘bota’ continua dividida entre o Norte rico e o Sul mais empobrecido, a máfia mantém o poder intacto (veja-se o escândalo do lixo em Nápoles) –, a economia está em estagnação há anos e a dívida pública assusta. A geração bamboccioni não sai de casa dos pais. E as mulheres, segundo o último relatório para a igualdade de género do Fórum Económico Mundial, ocupam um papel cada vez mais subalterno: o país «das belas secretárias», como disse uma vez Berlusconi, está em 79.º lugar entre 134 países.

Enquanto o país olha para o fogo de artifício, nova tentativa de aprovar legislação à medida é submetida no parlamento para que o primeiro-ministro (que recebeu há dias uma petição com 10 milhões de assinaturas para que se demita) possa salvar a pele em pelo menos um dos quatro processos a que tem de responder. Do caso Ruby, acusado de prostituição de menores e abuso de poder, não resiste a comentar a acusação da procuradoria com o seu sentido de humor duvidoso («Sou travesso, mas 33 mulheres é demasiado»). Se as sondagens batem certo, a Itália quer divorciar-se do governante. Mas, pelo que se sabe da personagem, tudo irá fazer pela reconciliação.

César Avó