Seguro e Assis na linha da sucessão

Socráticos preferiam António Costa, mas o presidente da Câmara de Lisboa não avança

o ps está unido em torno de josé sócrates e alinhará ao lado do líder do partido na próxima campanha eleitoral. mas as movimentações para a sucessão do secretário-geral no caso de um eventual desaire nas urnas já começaram há muito.

antónio josé seguro tem trabalho feito junto das bases desde há vários anos, tendo sido o primeiro a afastar-se da liderança de josé sócrates, em cujos governos, aliás, nunca participou.

e francisco assis, na ausência de antónio costa, é o mais provável concorrente pelos defensores de uma linha de continuidade com a actual direcção.

o presidente da câmara de lisboa, antónio costa, é o nome preferido no ps para disputar com antónio josé seguro a liderança do partido, num cenário de sucessão de josé sócrates.

mas o actual presidente da câmara de lisboa já avisou que pretende terminar o mandato na autarquia e deverá recandidatar-se nas eleições autárquicas de 2013 livre de qualquer cargo dirigente no partido.

o que, ainda assim, não desmobiliza os socialistas que querem ver o actual número dois do partido passar a líder. aliás, muitos socialistas lembram agora o caso de jorge sampaio que, em 1989, acumulou a presidência da capital com a liderança do partido.

«vai ser pressionado a avançar» é uma frase que se ouve repetidamente entre os socialistas que não se revêem numa esperada candidatura de antónio josé seguro.

costa é visto como o dirigente que melhor pode congregar o ps em torno de uma candidatura alternativa. por um lado, manteve-se sempre com josé sócrates e sabe que garantiria o apoio de boa parte do núcleo-duro do primeiro-ministro demissionário. por outro lado, conseguiu reforçar o estatuto de ‘líder na reserva’ ao afastar-se do governo e seguir vcaminho próprio e autónomo do actual secretário-geral. e, além disso, é um dirigente com peso no aparelho, capaz de disputar a vitória a qualquer outro candidato.

uma prerrogativa que mais dificilmente é reconhecida a francisco assis, o actual líder parlamentar do ps. «não tem partido para enfrentar seguro», antecipa um dirigente socialista.

a ideia é que mesmo para antónio costa não será fácil ganhar a antónio josé seguro. caso seja francisco assis a assumir a disputa, a dificuldade será muito maior.

a força de seguro junto do aparelho partidário é reconhecida mesmo pelos seus adversários, a quem não passou despercebido o constante trabalho do deputado junto das bases e a proximidade a muitos líderes de federação. mas o distanciamento do deputado face ao governo de josé sócrates, e algumas críticas que foi assumindo pelo caminho, valeram-lhe também o antagonismo de vários dos actuais dirigentes. resultado, nas palavras de um deles: seguro pode avançar num futuro próximo para uma corrida à liderança, mas «não avança sozinho».

sócrates decide

a sucessão de josé socrates já se discute nos bastidores, mas ainda em surdina. por agora, as contas são outras: vem aí a constituição das listas de candidatos a deputados e será sócrates a comandar este processo. o que, por si, é um poderoso factor de contenção nas críticas internas. mas não é o único.

a luta pelo poder no ps vai depender em muito do resultado das eleições legislativas. esta semana, vários nomes próximos de josé sócrates vieram afirmar que o secretário-geral poderá manter-se no cargo, mesmo em caso de derrota. josé lello, membro do secretariado do partido e um nome próximo do ainda primeiro-ministro, é taxativo: «vai ficar. o ps não varre os seus líderes». o também deputado dá o exemplo de ferro rodrigues, que «também não saiu quando perdeu». uma ideia que foi lançada por capoulas santos, director de campanha de sócrates, em declarações ao diário de notícias, e que foi também subscrita por renato sampaio, líder da federação do porto.

a convicção dos ‘socráticos’ não se estende a outros sectores do ps. «se perder tem de sair», referiu ao sol um dirigente socialista. «não vejo grande interesse em que fique. até para o próprio», refere também um deputado.

o desfecho dependerá da vontade do secretário-geral socialista. hoje e amanhã, o ps está em eleições directas para eleger o líder e, face à concorrência de jacinto serrão, fonseca ferreira e antónio brotas, ninguém duvida que sócrates sairá do fim-de-semana com uma folgadíssima vitória.

susete.francisco@sol.pt