Fukushima e o futuro do nuclear

A energia nuclear vai acabar? Não, as notícias do nuclear são muito exageradas. Fukushima vai ser fechada e a segurança das outras centrais vai ser reforçada.

o terramoto recente no japão causou em fukushima o que é, depois de chernobyl, na ucrânia, em 1986, o pior desastre numa central nuclear nos últimos 50 anos. embora a situação não esteja ainda resolvida, foi talvez pior do que three mile island, nos estados unidos, em 1979. tal como nesses casos, houve provavelmente fusão parcial do combustível nuclear devido a falhas dos sistemas de refrigeração. mas, ao contrário deles, não houve erros humanos óbvios na operação da central: o terramoto, o maior do japão e o quarto maior de sempre em todo o mundo, e, principalmente, o tsunami, uma vaga de mais de dez metros de altura, foram devastadores.

o acidente de three mile island causou uma onda de medo largamente injustificada. não houve vítimas. e foram insignificantes os níveis de radioactividade fora do perímetro da central. como é muito fácil medir radioactividade, muitas pessoas acabaram por tomar consciência da radiação natural, atribuindo-a ao acidente na central. contudo, do ponto de vista de saúde pública, os efeitos foram, como os especialistas disseram, apenas ao nível da ansiedade e stress.

chernobyl foi muito pior. além da meia centena de bombeiros que morreram no local, foram estimadas em cerca de quatro mil as vítimas de cancros mortais causados por partículas radioactivas. este cálculo não é exacto, pois baseia-se não só em medições de radioactividade, mas também em modelos descritivos do pequeno acréscimo de doenças cancerosas na população da região. infelizmente o cancro é uma doença muito comum, sendo difícil, se não mesmo impossível, dizer que um dado cancro na zona afectada se deveu a radioactividade proveniente de chernobyl.

é cedo para tirar conclusões sobre fukushima. o medo do perigo invisível é bem patente, tal como em three mile island e chernobyl, embora os japoneses sejam menos propensos a manifestações de pânico: veja-se o modo disciplinado e até estóico como reagiram ao terramoto. o governo do japão não está a cometer o disparate, como a união soviética, de ocultar as notícias: um boletim na internet do ministério da ciência tem divulgado os níveis de radioactividade que, até agora, fora da zona de exclusão de 30 km à volta da central, não são preocupantes. e, ao contrário do soviético, tem divulgado recomendações para evitar o consumo de leite e vegetais na região, uma vez que os isótopos radioactivos penetram facilmente na cadeia alimentar.

a energia nuclear vai acabar? não, as notícias sobre o nuclear são muito exageradas. o japão precisa dessa energia por não ter acesso fácil e barato a outra. fukushima vai ser fechada e a segurança das outras centrais vai ser reforçada. o mesmo vai ocorrer no mundo todo. o ser humano aprende sempre quando algo corre mal.

tcarlos@uc.pt