aliás, um estudo da organização mundial de saúde, apresentado na última semana, sobre comportamentos de risco entre os jovens portugueses, dos 11 aos 16 anos, revela um padrão no aumento do consumo de todas as drogas entre 2006 e 2010: 1,8% para 2% no lsd, 1,6% para 1,9% na cocaína e 1,6% para 1,8% no ecstasy. «é preocupante porque revela um padrão nos aumentos de consumo», diz margarida gaspar de matos, que coordenou o trabalho em portugal.
quanto à entrada de jovens nas festas trance, a investigadora considera que «as autoridades deveriam monitorizar estas situações junto dos organizadores». os 15, 16 anos, explica margarida gaspar de matos, são precisamente «as idades em que os jovens começam a experimentar substâncias químicas». isto, refere, «apesar de serem sobretudo os universitários» a fazê-lo.
na maioria das festas, os menores não têm qualquer dificuldade em entrar e a segurança é quase nula. por isso, também o presidente do instituto da droga e da toxicodependência (idt), joão goulão, admite que é necessário maior controlo. «a forma como estes eventos são organizados escapa ao controlo das autoridades», avisa o especialista.
são vários os tipos de festas existentes, que variam consoante o género de música, que vai desde o trance até ao dubstep, passando pelo drum and bass e o electro.
para controlar situações perigosas, o idt ‘infiltrou’ técnicos nestas festas, que se misturam com a multidão. são profissionais treinados para influenciar os utilizadores de modo a evitar o consumo excessivo de químicos e a actuar em casos extremos em que alguém tenha, por exemplo, um surto psicótico. ao todo, adiantou ao sol joão goulão são mais de 20 equipas de norte a sul do país nestas festas.
«a forma que temos de agir, em parceria com entidades locais, é pôr no terreno pessoas com quem os jovens se identificam», explica goulão.
o sol encontrou adolescentes de 15 e 16 anos nestas festas, que explicam o que os leva a consumir drogas tão perigosas e radicais como os alucinogéneos.
diogo, 15 anos
consome md
‘fico no meu mundo’
enquanto dança com energia no opart, espaço de festas situado em alcântara, diogo conta a sua experiência com drogas. considera-se «um noctívago» e confessa ser um habitual consumidor de md (cristais sintéticos). percorre as festas electrónicas por toda a região de lisboa. «gosto de tudo um pouco na música electrónica. trance, electro, drum & bass. tudo dá para dançar», refere o jovem, explicando que a música electrónica e as drogas estão misturadas. «fico no meu mundo. abstraio-me de tudo e de todos. sou eu e a música».
pedro, 16 anos
consome md e haxixe
‘para as festas, só a ganza já não serve’
pedro tem 16 anos e começou por consumir haxixe com os amigos aos 14. hoje, admite, «para as festas só a ganza já não serve». pedro explica o motivo: «tenho de acelerar». o adolescente garante que não tem qualquer dificuldade de acesso às drogas. «o md compra-se ao grama. costumo comprar com amigos, para ficar mais barato», conta ao sol. apreciador de festas de trance, esclarece que consome para aguentar uma noite inteira: «chego a beber três a quatro garrafas pequenas com mais um amigo. tenho de ter energia para a noite toda».
e nem o medo do vício e dos problemas associados ao consumo destas drogas o preocupam: «no momento só quero aproveitar. sou novo, depois logo se vê».
lúcia, 15 anos
consome md, erva e lsd
‘é fácil encontrar os vendedores’
lúcia iniciou-se no mundo das drogas com 15 anos, ao fumar erva com uma amiga. aos 16, já experimentou erva, haxixe, md e ácidos. não se sente viciada. «as drogas são um complemento para a diversão», diz, especificando: «ajudam-me a criar estados de espírito diferentes do normal».
por ser estudante, é dos pais que vem o dinheiro para comprar a droga e também ela garante que «é fácil encontrar os vendedores». «quem quer comprar, tem sempre gente na zona que vende de tudo. hoje torna-se mais fácil», refere.
consome quando tem necessidade, quer seja «nos intervalos das aulas, na rua com os amigos ou em festas». garante ainda que «agora toda a gente que chega aos 18 já experimentou muita coisa». lúcia diz–se, porém, consciente de tudo. «cada vez mais cedo vamos sabendo os efeitos e as consequências. somos jovens, temos tempo para novas experiências».
carlos, 16 anos
consome md e lsd
‘é uma droga perigosa’
«fico concentrado, e vivo para o mundo. nem sempre a droga te deixa mais lento», conta ao sol carlos, de 16 anos. gosta de «meter md para curtir o som», e classifica-se como um consumidor consciente. carlos gasta em média 10 euros por semana em haxixe e md. «sei até onde posso ir. no meu grupo de amigos todos nos controlamos e vemos se algum está a abusar», explica.
trabalhador-estudante, afirma que o dinheiro para estas coisas vem do seu «bolso». além disso, garante, peremptório: «controlo o que compro porque o dinheiro custa-me a ganhar. é uma forma de não consumir demasiado».
já experimentou lsd, mas admite que «é uma droga perigosa». «esta sim, tira-te do mundo real. não penso meter mais», promete.
tiago, 16 anos
consome cocaína, md, lsd
‘os ácidos queimam mais a cabeça’
tiago, de 16 anos, está visivelmente cansado ao sair de uma festa na zona de lisboa: «aqui gasta-se muita energia. é a noite toda a dançar». envolveu-se no mundo das drogas com apenas 14 anos, ao experimentar haxixe. desde aí diz que já consumiu haxixe, erva, lsd, md e cocaína. «habitualmente consumo haxixe. md, só nas festas e ácidos (lsd), só uma vez ou outra na casa de amigos. cocaína só experimentei uma vez e não quero mais», conta ao sol. diz que o md lhe dá energia.
«o corpo fica completamente enérgico e só queres curtir. e admite que os ácidos são mais perigosos. «os ácidos queimam mais a cabeça. ficas a alucinar com tudo e isso pode dar bom ou mau resultado». consome md por via nasal para «bater mais e mais rápido».
luís, 17 anos
consome haxixe e md
‘às vezes fico enjoado’
para luís, de 17 anos, a droga é «o fruto proibido mais apetecido». consome haxixe e md quando sai à noite e nas férias.
apesar de dizer que «o md é uma droga de diversão – a música, a noite, as luzes, tudo fazem querer mexer» –, admite que as consequências físicas podem ser desagradáveis quando passa o efeito. «às vezes fico enjoado e com dores de cabeça».
sonia.balasteiro@sol.pt