pelo menos durante as duas ultimas semanas, alguns doentes foram encaminhados para as farmácias para comprarem o medicamento – que sempre foi distribuído gratuitamente –, invocando-se «uma ruptura de stock nos serviços». o caso deixou preocupados profissionais e doentes, que suspeitaram tratar-se de mais uma medida de poupança. mas o ministério da saúde garantiu ao sol que a situação está normalizada e que o tratamento da tuberculose continuará a ser gratuito.
a situação mais grave ocorreu no centro de diagnóstico pneumológico (cdp) de alcântara, onde o medicamento já não existe desde há três semanas. «temos pedido a outros centros para ir tapando as falhas. mas, neste momento, já não há em lado nenhum», disse ao sol uma fonte do centro.
por isso, os médicos começaram a passar receitas aos doentes, para que comprem o medicamento nas farmácias, onde têm de pagar mais de quatro euros por embalagem. este medicamento integra o cocktail básico de quatro antibióticos do tratamento obrigatório da tuberculose –, sendo que o único dos quatro que está à venda nas farmácias é precisamente aquele que deixou de ser dado nos cdp.
uma fonte do laboratório que comercializa o medicamento, a sanofi-aventis, disse ao sol que não há qualquer ruptura de stock: «o medicamento está disponível e pode ser fornecido imediatamente».
‘tudo resolvido’, diz a ars
«a responsabilidade de abastecimento é da ars de lisboa (neste caso), que tem serviços farmacêuticos que compram e distribuem gratuitamente os medicamentos aos doentes», explicou, por seu lado, o coordenador do programa nacional de luta contra a tuberculose, o médico fonseca antunes, lembrando que, «até hoje, nunca houve ruptura de stocks» nos centros de tratamento do serviço nacional de saúde (sns).
já a ars de lisboa, contactada pelo sol, garantiu que se tratou de um problema pontual – ocorrido apenas no serviço de alcântara –, o qual foi rapidamente resolvido. foi, ao que tudo indica, uma «má gestão do stock, que não podia nem devia ter acontecido». «assim que nos apercebemos da situação, o stock foi reposto. neste momento, está tudo normalizado», disse o presidente da ars, rui portugal, salientando: «o tratamento da tuberculose é gratuito e continuará a sê-lo. é uma questão de saúde pública garantir este tratamento a todos os doentes».
a situação ocorrida no cdp de alcântara provocou uma corrida às farmácias, que tiveram de encomendar o medicamento ao laboratório – uma situação inédita, uma vez que o ministério da saúde é o comprador quase exclusivo fá-lo, aliás, por concurso, através da central de compras da saúde, e para o ano inteiro.
«este medicamento faz parte do regime standard, que inclui quatro antibióticos, e só com os quatro é que ele é eficaz», disse fonseca antunes. «a falta de um dos deles dificulta a cura e aumenta os riscos de tuberculoses multi-resistentes. ou seja, tem mesmo de se tomar os quatro antibióticos», explicou ainda o coordenador do programa nacional, alertando: «a interrupção do tratamento (que dura seis meses) por falta de medicamentos é, por isso, incompreensível e intolerável».
fernanda l. foi uma das doentes de alcântara a quem não foi dado gratuitamente este medicamento. como um familiar seu contou ao sol, deslocou-se na primeira semana de abril ao centro de diagnóstico pneumológico (cdp) de alcântara, para uma consulta, onde lhe foi diagnosticada a doença e prescrito o tratamento para 30 dias.
mas, quando se dirigiu à dispensa dos medicamentos do cdp, foram-lhe dados apenas três dos quatro antibióticos receitados pela médica. a enfermeira disse-lhe que estavam à espera de um deles e que a informariam quando ele chegasse, para o ir levantar.
dias depois, recebeu o telefonema e voltou ao centro. mas disseram-lhe que o medicamento estava esgotado. fernanda foi então a uma farmácia e em duas horas resolveu o problema. mas teve de pagar pouco mais de quatro euros pelo medicamento – que é comparticipado em 37% pelo estado, quando é comprado com receita médica do sns na farmácia.
segundo um relatório da direcção-geral de saúde, revelado no mês passado, a incidência da doença em portugal baixou para cerca de metade numa década – de 40 novos casos por 100 mil habitantes em 2001 para 22 em 2010. no ano passado, foram tratados 2.559 doentes em portugal, incluindo casos novos e retratamentos. a incidência dos casos novos foi de 2.372, menos 11% relativamente a 2009.
a ars de lisboa decidiu, entretanto, juntar os quatro cdp existentes na capital e criar um único serviço. os cinco clínicos que estavam espalhados pelos cdp vão agora trabalhar juntos, num único serviço de tratamento da tuberculose.