Opus Dei cresce na hierarquia da Igreja

Nomeação do novo bispo auxiliar do Porto, que pertence à Opus Dei, apanhou de surpresa outros bispos

o opus dei está a reforçar o seu poder entre a hierarquia de topo da igreja católica portuguesa. além de jacinto botelho, bispo de lamego, esta organização tem agora mais um bispo, pio alves, que acaba de ser ordenado bispo auxiliar do porto. isto enquanto se especula sobre a possibilidade de josé rafael espírito santo, líder regional de coimbra do opus, poder vir a suceder, por vontade do vaticano, a d. albino cleto, bispo daquela cidade – e que há um ano pediu a resignação, por limite de idade, imposta pelo código de direito canónico.

o opus dei reage com prudência àquilo que parece ser uma nova tendência na hierarquia da igreja. «os padres do opus dei não procuram a função de serviço de dirigir dioceses, mas também não a rejeitam se lhes pedem esse serviço», explicou ao sol pedro gil, director do gabinete de comunicação do opus, acrescentando: «a igreja precisa, sobretudo, de bispos santos e fortes, qualquer que seja a sua proveniência dentro dela».

além dos dois bispos, o opus conta com cerca de uma centena de padres espalhados por várias dioceses do país. e tem 30 padres em exclusivo a trabalhar para o movimento, dando formação, entre outras funções.

confrontado pelo sol, d. jorge ortiga, líder da conferência episcopal portuguesa (cef), garantiu que todas as nomeações de novos bispos têm seguido «o processo comum», adiantando que, em relação à substituição de d. albino cleto, «não há ainda qualquer» decisão.

o «processo comum» implica, segundo ortiga, que o núncio apostólico em portugal (o representante diplomático do papa) escolha três nomes entre os indicados pelos bispos, e que os proponha ao vaticano, que tem a última palavra. mas segundo fontes da igreja, a escolha de pio alves terá sido feita directamente por rino passigato, o actual núncio, e apanhou mesmo de surpresa tanto o presidente da cep como o próprio bispo do porto, d. manuel clemente.

entretanto, estão para breve várias nomeações de bispos, que podem reforçar ainda mais o poder do opus dei na hierarquia da igreja. é que, além de albino cleto, outros bispos pediram a resignação, já aceite pelo papa, esperando agora ser substituídos. é o caso do bispo de bragança-miranda, d. antónio moreira montes, e do bispo auxiliar do porto, d. joão miranda teixeira, auxiliar do porto. o bispo de vila real completa também 75 anos em maio, tendo, por isso, de renunciar ao cargo.

eleições na cep

além disso, aguarda-se a decisão do papa quanto ao futuro de josé policarpo à frente dos destinos do patriarcado de lisboa, que poderá influenciar as movimentações nas várias dioceses. tudo indica que, apesar de o actual patriarca ter pedido a renúncia por ter atingido os 75 anos, venha a ser reconduzido por mais dois anos.

a sucessão de policarpo tem sido, de qualquer modo, alvo de muitas especulações. manuel clemente, bispo do porto, foi sempre tido como o ‘candidato’ mais forte ao lugar. no entanto, o nome de francisco marto, bispo de leiria-fátima, começou a surgir mais recentemente bem posicionado para substituir policarpo.

outro dos lugares poderosos da igreja é o de presidente da cep, cuja novo líder será escolhido no próximo dia 5 de maio.

«não posso continuar, pois os estatutos da conferência episcopal só permitem que se façam dois mandatos seguidos», explicou d. jorge ortiga ao sol. um dos nomes mais falados para o seu cargo é, mais uma vez, d. manuel clemente, actual bispo do porto.

catarina.guerreiro@sol.pt  e graca.rosendo@sol.pt