a situação política portuguesa faz lembrar a história de um casal que se dá mal há muito tempo. o marido engana a mulher, bate-lhe e deixa-a numa situação difícil para educar os filhos, mas os vizinhos insistem com eles para darem mais uma oportunidade ao casamento.
a mulher, sistematicamente agredida, apresentou três queixas na polícia, e recusa dar a quarta chance ao marido infiel, mentiroso e perigoso. mas, ao que parece, ninguém quer que ela deixe de levar pancada, já que os sábios do prédio decretaram que, em nome da reputação do condomínio, está fora de questão não se (re)unirem e ultrapassarem divergências. a senhora bem tenta explicar que é impossível conviver outra vez com tal criatura, embora tenham de ser crescidinhos para tratar com dignidade a criança que entretanto nasceu.
«o próximo marido até pode querer ser pior, mas com este é que não fico, pois sei muito bem o que ele é. se tiver um próximo não o deixarei abusar, e fiquem descansados que pagarei a tempo e horas todas as contas».
perante tamanha determinação, os vizinhos não se dão por vencidos e tratam de fazer um documento, que alargam aos moradores de outros prédios, para insistir que a mulher fique com o pai do seu filho, pois este, apesar de não ter cumprido, sempre fez promessas e até foi arranjando planos para pagar as dívidas. a mulher, pela enésima vez, explica que não há volta a dar e que com aquele homem nunca mais fará nenhum negócio: seja ele o do amor ou o das finanças. «chega, estou farta de ser enganada». mais uma vez indiferentes, os condóminos tentam pedir ao proprietário do prédio que exerça a sua autoridade para não permitir que a senhora corra mais riscos e se habitue à ideia de que, com o homem de quem ela se quer separar, sempre sabe com o que conta.
até de países distantes a mulher recebe ameaças por não conseguir viver mais na mentira. «nunca pensei que fossem tantos a querer obrigar-me a viver com um sem-vergonha que tudo fará para me enganar e maltratar na primeira oportunidade. até posso vir a desenvolver um negócio com o irmão, mas com ele é que nunca. é a aberração total o que se está a passar.foi ele o culpado do que se passou de mal e não vale a pena estar a fazer o papel de vítima e trazer os bancos a quem devemos dinheiro. eu trato do assunto», comenta com uma amiga.
qualquer semelhança com artistas nacionais é pura coincidência. há muitas coincidências, mas não passam disso. afinal, o homem não conseguiu que ela lhe desse uma quarta oportunidade. é ela, portanto, a culpada de tudo o que de mau aconteceu no passado. viva o bom senso!
vitor.rainho@sol.pt