a poliandria é rara, mas existe. na tribo zoe, região do pará, brasil, uma mulher pode ter vários maridos, incluindo jovens a quem ensina as artes necessárias para que se tornem bons esposos, em troca de peças de caça para alimentar a restante família.
o povo nyinba, no nepal, pratica a poliandria fraterna. quando uma mulher se casa com um homem, ela também se casa com os seus irmãos. todos têm igual acesso sexual à esposa e toda a família cuida das crianças, embora reconheçam cada irmão como pai de uma determinada criança. este tipo de estrutura matrimonial concentra a riqueza e os recursos dos irmãos na família e também as terras e riquezas de seus pais.
há uns anos conheci pam, uma holandesa que viveu cinco anos em bigamia. estava casada há pouco tempo quando se apaixonou por um homem mais novo. contou ao marido o que se passava e este, que não a queria deixar, sugeriu que o outro coabitasse com eles. e assim foi: pam dormia às segundas, quartas e sextas com o marido e às terças, quintas e sábados com o namorado. ficou grávida do namorado e o filho foi criado pelos três. ao fim de cinco anos, o marido saiu de casa. conheci-a alguns meses depois. com pouco mais de 30 anos, aparentava mais de 40. era taciturna, mortiça, talvez das pessoas mais tristes que conheci. quando lhe perguntei quem era o homem que de facto amava, respondeu sem hesitar que era o marido. confessou-me que aqueles cinco anos tinham sido os piores da sua vida, que havia sofrido muito e infligido enorme sofrimento aos dois homens da sua vida, que receava as consequências ainda por vir na formação da personalidade do seu filho e classificou esse período da sua vida como extenuante. não voltei a ter notícias dela.
o que levou estes três seres humanos e fazer tal experiência é um mistério para mim. no cinema, o clássico de truffaut jules e jim conta a história de dois grandes amigos que, depois de terem lutado em facções opostas durante a segunda grande guerra, acabam por partilhar a mesma mulher. catherine é casada com jules mas o casamento não anda bem e por isso jules pede ao amigo jim que se ocupe dela, em nome da felicidade de todos. aqui não se trata nem de poliandria nem de bigamia, mas de um jogo em que o triângulo amoroso exerce igual fascínio nos que dele fazem parte.
na vida real é difícil imaginar um homem a pedir ao seu melhor amigo que se ocupe da sua mulher. amor e casamento podem não andar de mãos dadas, mas em ambos os casos a noção de posse – e tantas vezes de propriedade – não deixa margem para partilhas. a monogamia continua a ser o sistema matrimonial mais popular do mundo porque também é aquele que nos dá maior conforto emocional. sempre ouvi dizer que não se emprestam carros, livros ou mulheres, pela simples razão que não voltam da mesma maneira.
nunca mais falei com a pam, mas aposto que hoje não está com nenhum dos dois homens com quem partilhou cinco anos da sua vida. afinal, ninguém aguenta tanta modernice junta. nem mesmo a própria.