Sendo o BCP o único banco financiador da Parkalgar, Vara sempre esteve preocupado com o projecto do autódromo do Algarve. Quando chegou ao BCP, este já tinha aprovado linhas de crédito de 82,2 milhões de euros, para uma empresa com um capital de 50 mil euros e um património que, em 2007, tinha sido avaliado entre os 28 e os 39 milhões de euros.
Em Julho de 2009, em conversa com Laurentino Dias, secretário de Estado do Desporto, Vara considerou o projecto da Parkalgar como um sorvedouro de dinheiro e irracional do ponto de vista económico. Tentou então convencer Laurentino a promover junto de outros membros do Governo a nacionalização do autódromo. Ou, em alternativa, a aprovação por parte da Caixa Geral de Depósitos de duas linhas de crédito (num total de 20 milhões de euros) para a Parkalgar. Na mesma conversa, Laurentino Dias afirmou que a AICEP Capital e o Turismo Capital, que tinham investido cinco milhões de euros em Janeiro de 2009, podiam aumentar a participação.
Lendo as actas do Conselho de Administração da AICEP Capital – que foram disponibilizadas com expurgos ao SOL – é claro que, pelo menos desde Maio de 2009 (quando Cubal de Almeida renunciou ao cargo de administrador da Parkalgar) que aquela empresa, face às «insuficiências de tesouraria» da Parkalgar, estava a negociar o aumento da sua participação.
Elevado endividamento
Mas, em Setembro de 2009, segundo a acta da reunião da administração da AICEP_Capital, a ideia foi afastada. «Prevaleceu, por unanimidade, o entendimento de que (…) qualquer eventual reforço do investimento da AICEP Capital na Parkalgar não poderá dispensar a disponibilização e análise da informação relevante para o efeito» – lê-se na acta. A AICEP recusou-se a disponibilizar ao SOL mais informação sobre este assunto.
A causa dos problemas financeiros da Parkalgar está ligada ao elevado endividamento assumido pela empresa para construir o autódromo do Algarve. A Parkalgar ainda não apresentou as contas do ano de 2010, mas as contas de 2008 e 2009 permitem perceber a degradação do passivo. O endividamento subiu de 51,5 milhões de euros em 2008 para 74 milhões em 2009, sendo que cinco milhões são dívida de curto prazo.
Os problemas começaram a surgir logo em 2009, quando a Parkalgar não recebeu os 30,5 milhões de euros previstos pela cedência da exploração de um hotel e de 160 apartamentos turísticos por quebra de contrato por parte de investidores irlandeses e escandinavos. Essas infra-estruturas continuam hoje por concluir (apesar da Parkalgar já ter iniciado a construção e comercialização dos apartamentos), enquanto que o Parque Tecnológico (outra fonte de receita) nunca saiu da maquete – apesar de vários anúncios de instalação de empresas de competição automóvel.