faz hoje uma semana, quando me lembrei do acontecimento e liguei a televisão, já a cerimónia ia quase no fim; aterrei na bênção do bispo aos noivos seguida do hino. vi vestidos fabulosos, chapéus de todas as cores, enquanto uma multidão selecta e fervorosa entoava god save the queen, excepto a própria. ouvi os coros magníficos, vi os meninos vestidos de anjinhos com os cabelos bem cortados, vi pompa e circunstância e, de repente, percebi que o mundo tinha parado para assistir ao casamento real. kate e william casaram dez anos depois de se terem conhecido em st. andrews, na escócia. a noiva ia linda, o noivo nem por isso. kate emagreceu bastante, o que não é de admirar quando uma pessoa vive o filme da sua vida em directo para o mundo.
afinal, um casamento é sempre um casamento. e todas as meninas sonham que são princesas e que um dia se vão casar com um príncipe. o príncipe até pode ter um dente partido e pêlos nas costas, mas se ele for a pessoa certa, porque não casar na mesma? a seguir, pode sempre optar-se por um bom dentista e pela depilação definitiva.
os noivos atravessaram a abadia de forma contida – ele com a pose de estado própria de quem cresceu habituado a estas lides e ela nervosa e sorridente, certamente feliz por ser princesa. e todas as mulheres pelo mundo inteiro sentiram um nó na garganta e pensaram no dia do seu casamento. na reportagem da bbc, as palavras mais ouvidas foram «fantástico, perfeito, maravilhoso». a monarquia britânica vê a sua imagem reforçada e, durante os próximos dez anos, o vestido de kate será copiado por milhões de noivas em todo o mundo.
afinal, um casamento é sempre um casamento. com o passar dos anos, pode tornar-se um equívoco, um tormento, uma bênção e até uma empresa. um casamento dá mais trabalho a manter do que a realizar; é uma empreitada, um feito e uma coroa de glória pessoal quando a sorte e a dedicação misturadas fazem de tal escolha a escolha certa. a grande questão é acertar, porque a pessoa certa às vezes não existe, às vezes existe mas casou com outra pessoa, às vezes não quer casar, outras não quer voltar a casar – o que me faz pensar na teoria das laranjas cortadas e lançadas ao mundo à procura da outra metade, teoria na qual, apesar de tudo, ainda acredito.
ainda acredito que a minha metade anda por aí, a sorrir para mim, mesmo quando não estamos juntos. ainda imagino que os seus olhos brilham sempre que me vê, que os seus abraços serão sempre mais seguros e os seus beijos, os melhores e os mais apaixonados. não sei se a minha metade é ou não um príncipe encantado, mas sei que possui muitos encantos e que a generosidade e integridade estão entre os mais importantes. sei que saberá cuidar de mim se eu adoecer com o mesmo carinho com que me levará pela mão a conhecer o seu mundo. e sei, porque acredito e acredito porque sei, porque a intuição é o olhar do coração e o coração raramente se engana.
nem sequer penso se me voltarei ou não a casar, mas sei que um dia usarei uma aliança com o nome dele e ele uma com o meu nome. não conheço datas nem lugares porque não sou pitonisa, mas, depois de ter visto um casamento tão perfeito, acredito que um dia me vou sentir outra vez uma princesa feliz que encontrou o seu príncipe. e, a partir desse dia, nunca mais vou olhar para uma laranja cortada da mesma maneira.