a campanha eleitoral ainda não arrancou oficialmente – para mim é incompreensível que se diga que ainda não começou – e os líderes dos principais partidos têm-se revezado em tudo o que é programa televisivo, e não falo nos célebres debates a dois. procuram mostrar facetas desconhecidas do grande público, embora a grande ideia seja a de transmitir que são pessoas como as outras, com dúvidas, receios, sonhos e alegrias.
não sou grande adepto de alguns desses programas e como tal passo ao lado dos mesmos. nos debates a dois procuro espreitar os truques utilizados por cada um – não é que não tenha uma ideia formada sobre todos – e divirto-me com aquilo que acho ser uma demonstração de cinismo mais ou menos encapotado.
quando a discussão se abre a figuras secundárias dos partidos, a história agrava-se e os insultos sobem de tom e a algazarra parece não ter fim. é assim em portugal e em todos os países que conheço onde há eleições. durante a campanha eleitoral, sem razão aparente, os políticos entram numa espiral de violência verbal que roça a má educação e faz lembrar as velhas disputas de taberna. aproveitando esse calor eleitoral, logo aparecem umas figuras meio iluminadas que apelam ao boicote às eleições, clamando que o país não precisa de políticos e que estes devem ser castigados. o mais engraçado é que sempre que dizem essas graçolas, logo a assistência, quando a há, se levanta numa agitação frenética aplaudindo tais ideias.
mas se as pessoas não querem ser governadas por políticos querem ser governadas por quem? por independentes? mas esses, se tiverem de governar, não são políticos? são gestores? são padres? são de alguma ong?
tudo indica que teremos uma das campanhas eleitorais mais renhidas e ‘assanhadas’ dos últimos anos. também é verdade que portugal há muitos anos que não se encontrava numa situação tão paupérrima. há gerações que nunca viveram na iminência de uma bancarrota e até podem acreditar que só vamos atravessar um longo período de crise porque houve uns malandros que não aprovaram um plano para salvar o país. e podem juntar-se ao coro daqueles que atacam os políticos todos, como se a responsabilidade de termos chegado ao ponto em que estamos pudesse ser assacada a todos por igual. haverá, seguramente, gurus da publicidade e do marketing que irão tentar passar essa ideia. outros dirão para não se votar – até porque, dessa forma, os partidos com mais militantes acabarão por ganhar –, conseguindo fazer passar a mensagem que lhes interessa. há mesmo muita falta de vergonha nesta época eleitoral. prefiro de longe o discurso dos políticos a marketeiros encapotados.
vitor.rainho@sol.pt