À semelhança do fado, que ficou na prateleira dos produtos proibidos depois do 25 de abril de 1974 – escrevo o ano porque acredito que há quem não saiba –, também as bebidas mais pequenas entraram nessa categoria de coisas a evitar. Assim as minis e o vinho a copo ficaram associados a um tempo de atraso e de pobreza, já que era nas tascas que, supostamente, mais se bebia, e durante muitos anos viveram quase na clandestinidade. Mas se a história era essa em Portugal, lá fora tudo era diferente. Cultivava-se o fado de Amália, que continuava uma deusa, o vinho a copo corria nos principais bares e não me recordo, até porque era muito novo nessa data, se no estrangeiro havia minis.
Uns anos depois, Portugal acordou dos preconceitos bacocos. Hoje, quer o vinho a copo, quer as minis ou o fado representam uma certa modernidade chique. Como nunca fui de modas – talvez por questões de sacanagem, como dizem os brasileiros, sempre pensei que não há nada mais moderno do que chocar contra a moda vigente –, nunca liguei a essas imposições.
O mais engraçado é que há personagens que saltam de um lado da barricada para o outro com uma facilidade estonteante. Se antes não o faziam e criticavam os outros, quando mudam de campo adoptam o mesmo sentido crítico, embora agora no lado contrário.
Obviamente que os costumes mudam e regressam volta não volta. Há uns anos, era comum associar-se o varão a casas de alterne, ou de prostituição. Hoje não há, passe o exagero, é claro, rapariga ou mulher que não queira frequentar um curso de strip tease ou de burlesco, como damos conta nesta edição. Os hábitos dos portugueses estão a mudar lentamente para uns, muito rapidamente para outros. Há umas semanas publicámos nestas páginas a história dos cafés com piernas no Chile, onde as mulheres, diga-se com um ar vulgaríssimo, recebem os clientes em lingerie. Desde as 9 da manhã até ao fecho. Isto nas zonas mais pacatas da capital. Estaria Portugal preparado para uma coisa destas? Ainda não…