‘A Acampada Lisboa não é um festival de Verão’

«Nós somos responsáveis pelas nossas vidas», afirma Maria perante a Assembleia Popular reunida ao final da tarde de quarta-feira no Rossio, em Lisboa. O plenário improvisado reúne-se todas as tardes pelas 19 horas e, sentados no chão, há quem fale e há quem oiça.

mesmo que nos últimos dois dias o número de pessoas dispostas a trocar o conforto de casa pelo chão de calçada portuguesa tenha vindo a diminuir, os que ali estão garantem que «estão para ficar». até quando é que ainda não sabem, porque a permanência no local é votada todos os dias.

«vou começar a minha intervenção por agradecer aos políticos e gostava que me deixassem falar até ao fim», pede maria, continuando: «agradeço-lhes pela corrupção com que têm governado o país» porque foi ela que «levou a juventude a tomar uma atitude».

perante os olhares dos curiosos que passam, das pessoas que, menos informadas, perguntam o que está a acontecer, no meio de grupos que confundem a manifestação com um festival de verão, os que assistem ao discurso levantam as mãos num aplauso surdo. concordam com o que maria disse mas não batem palmas, não a querem interromper nem incomodar quem passa.

«a rua é de todos, mas da minha comida não vão comer e também não lhes empresto os meus cobertores» afirma joana – uma das jovens que está a dormir no rossio – quando lhe perguntamos sobre quem está a confundir a ‘manif’ com um festival.

explicam que têm um manifesto, disponível em várias plataformas, nomeadamente no http://acampadalisboa.wordpress.com/, mas que as propostas concretas ainda estão a ser discutidas.

o documento com o ‘programa’ só será colocado no papel depois de ouvidos todos os grupos presentes e todas as opiniões. a vontade é muita mas, como explica bruno, «o consenso não é fácil e há ainda muito trabalho por fazer».

para além do trabalho ‘político’ gerado nas assembleias, há uma rotina que exige que todos os dias as pessoas se inscrevam para desempenhar as tarefas diárias – limpar e desinfectar a calçada, cozinhar, despejar os lixos, pintar cartazes e tornar habitável aquela praça emblemática da cidade de lisboa.

inspirados nos protestos que desde 15 de maio mobilizaram milhares de pessoas em várias cidades espanholas (com epicentro na praça puertas del sol, em madrid), os jovens portugueses dizem-se anti-sistema, apartidários e pacíficos.

juram que têm ideias, prometem propostas concretas e querem provocar uma onda semelhante à de madrid. resta saber se, com a chuva que se avizinha, a onda não morrerá na praia.

 

veja a imagens da acampada na secção multimédia do sol

 

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