Concerto de PJ Harvey é simples, mas muito belo

É difícil, muito difícil mesmo, assistir a um concerto de PJ Harvey e depois não escrever um chorrilho de adjectivos elogiosos à artista. Ao vivo Polly Jean sabe, na perfeição, tornar simples o complexo, e o simples torna-se tão, mas tão belo.

no primeiro de dois concertos esgotados na aula magna, em lisboa, a artista britânica serviu-se apenas de música para arrebatar o público, que há muito esgotou a sala. só depois de uma hora e dez minutos de espectáculo é que pj harvey se dirigiu ao público com um tímido «muito obrigada por terem vindo». já este estava a aplaudir de pé há quase um minuto, momentos antes do primeiro (e único) encore.

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foi, aliás, aplaudida de pé que polly jean foi recebida pelo público lisboeta. bastou entrar em palco, para metade da sala se levantar e aplaudir efusivamente a presença da artista entre nós. uma recepção aparentemente exagerada e histérica, mas que em relação a pj harvey é perdoável porque, apesar de já ter tocado em portugal várias vezes, há muito que não fazia um espectáculo apenas em nome próprio.

ao lado dos sempre cúmplices mick harvey, john parish e jean-marc butty, pj harvey mostrou que a cantora roqueira ou provocadora que conhecemos noutras passagens pelo nosso país já cá não mora. com let england shake, o mais recente e conceptual álbum, a artista revelou a sua uma postura mais introspectiva e solitária.

vestida de negro total, com uma bandolete de penas na cabeça, a artista fez-se valer das melodias emocionalmente directas e profundas de let england shake, que foi tocado na íntegra. numa apresentação absolutamente simples, eficaz e deslumbrante, cujos momentos altos foram os temas ‘the glorious land’, ‘written on the forehead’, ‘bitter branches’. nesta altura, o som do microfone excessivamente alto de polly jean já estava corrigido, uma falha que perturbou as primeiras quatro músicas.

houve ainda tempo para visitar êxitos antigos, percorrendo a carreira de duas décadas de pj harvey. ‘the river’ e ‘angelene’ (ambas do álbum is this desire?, de 1998), ‘c’mom bill’ (to bring you my love, de 1995), ‘big exit’ (stories from the city, stories from the sea, 2000) e ‘the devil’ (do antecessor white chalk, de 2007) foram alguns dos temas que acompanharam as canções de let england shake, todos eles com novos arranjos para a auto-harpa que agora acompanha sempre a artista.

destaque ainda para o décor todo em madeira a lembrar a época vitoriana. além das indumentárias dos quatro músicos, também a decoração do palco não foi esquecida. uma cadeira de igreja em madeira, vários assentos antigos forrados a tecido e uma mesa de apoio vintage à vocalista favoreceram ainda mais as maravilhosas canções de pj harvey, que hoje à noite ganham outra vez vida na aula magna.

veja as imagens do concerto na secção multimédia do sol

alexandra.ho@sol.pt