os relatos e as centenas de vídeos no youtube, que nos foram chegando durante os últimos meses, anteciparam o ambiente psicadélico, fluorescente e extrovertido do espectáculo. mas a experiência de assistir ao vivo a sufjan stevens, e à viagem ao centro do cosmos que se propôs fazer com a digressão que ontem terminou em lisboa, transcendeu qualquer descrição prévia.
num espectáculo extremamente visual, e muito bem concebido, a nova vida artística de sufjan ganha todo o sentido. ao vivo, o lado conceptual de the age of adz é sustentado por uma vivacidade teatral muito forte, assente não só na roupa futurista das 11 pessoas em palco (incluindo sufjan, os músicos e duas bailarinas), mas também nas constantes animações visuais projectadas numa tela gigante no fundo do palco.
o início do concerto, com o velhinho ‘seven swans’, apresentou logo o lado metafísico do concerto e, naturalmente, do próprio sufjan – que apareceu em palco com umas asas gigantes, a lembrar um anjo caído. apesar da canção ser da era folk directa e sincera, sufjan conseguiu combiná-lo com a excentricidade que agora apregoa nesta reinvenção «melodramática, bipolar, hormonal e psicótica», como o próprio a descreveu.
«vamos celebrar o amor, o apocalipse e a solidão», referiu sufjan na primeira vez que se dirigiu ao público, agradecendo a presença de todos na viagem «através desta nave espacial», com o cenário do coliseu dos recreios a servir, de facto, como palco de excelência para a descolagem rumo ao espaço.
durante cerca de duas horas de espectáculo, sufjan alternou as canções de age of adz com temas mais antigos (essencialmente dos álbuns seven swans e michigan), numa esquizofrenia necessária para «limpar um pouco o ar» neurótico das novas canções. depois fez questão de explicar a influência que o pintor autoproclamado profeta royal robertson tem no novo trabalho, onde tentou alcançar «a transcendência» através apenas do som, e não das canções como o fez no anterior illinoise.
depois de uma hora e quarenta minutos, sufjan despediu-se do público lisboeta com o longuíssimo ‘impossible soul’, canção de 25 minutos, mudando a vestimenta cósmica por uma bastante mais infantil, cheia de balões. voltou cerca de dez minutos depois com nova indumentária.
sozinho, de t-shirt com a ilustração de um coração e calças de ganga, sufjan visitou, pela primeira vez em toda a noite, illinoise. ‘concerning the ufo sighting near highland, illinois’, ‘casimir pulaski day’ e, por fim, ‘chicago’ foram as três canções escolhidas para o encore. às primeiras notas de ‘chicago’ caíram dos céus balões coloridos, culminando o espectáculo que durante duas horas e vinte minutos transformou o coliseu dos recreios numa nave espacial, numa verdadeira festa cósmica. e nem foram preciso pastilhas.