Juiz aponta ‘premeditação e frieza’ na agressão em Benfica

Aos 16 anos, Bárbara tinha fama, pela sua personalidade agressiva, de não falhar uma briga. Rodolfo tem 18 e cadastro por vários crimes de roubo. Ambos frequentavam cursos de educação e formação do programa Novas Oportunidades – ela de assistente comercial e ele na área de Informática –, que abandonaram antes de serem presos, no…

para carlos alexandre, juiz de instrução criminal que decretou a prisão preventiva dos dois jovens a pedido do ministério público, foi «por demais evidente» que ambos planearam, com «extrema premeditação e frieza», um «ajuste de contas» com filipa, de 13 anos, por esta ter alegadamente insultado a mãe de rodolfo.

o plano foi acertado em conjunto com raquel, de 15 anos, e mais quatro jovens, que, no passado dia 19, ao início da tarde, atraíram a vítima às traseiras de um prédio junto ao centro comercial colombo, em benfica, onde a espancaram «à saciedade».

mal uma parte do grupo chegou ao local, chamaram por telemóvel os outros cúmplices. rodolfo vinha já preparado para filmar o evento. estava tudo delineado ao pormenor. além das imagens reveladas pela comunicação social, a menor tinha levado uma primeira «dose» filmada por marco andrade, que com a divulgação da agressão, apagou o que tinha filmado do seu telemóvel, conforme confessou.

seguiu-se uma nova «saraivada». durante 44 segundos, enquanto bárbara e raquel desferiam estaladas e pontapés na cabeça e no corpo de filipa, que estava «em inferioridade», os outros dois jovens, rodolfo e marco filmavam. na assistência, mais quatro jovens, conforme planeado, tinham sido convocados para o ringue. filipa ficou abandonada no pátio, apenas com outra jovem, que nada fez para travar a agressão. se não tivesse aparecido um grupo de jovens, a fúria não tinha sido apaziguada.

ricardo manuel conta que «só terminaram porque apareceu um grupo, todos do sexo masculino».

consumado o ataque, rodolfo divulgou o vídeo no facebook e bárbara, não satisfeita, encheu o site ainanas.com novas ameaças: «fazia tudo outra vez e ela levou poucas (…). ela mereceu e amanhã leva mais».

na consciência de bárbara não havia pinga de arrependimento e espante-se: «podem guardar as ameaças, até a televisão disse que não nos ia acontecer nada». para a jovem, «aquilo foi só um aquecimento».

confrontados em tribunal com as provas recolhidas pela psp, nenhum dos dois falou, a conselho dos advogados oficiosos. um silêncio que terá pesado na decisão de carlos alexandre. mas não só. pelo perigo de continuidade da actividade criminosa e de perturbação da tranquilidade pública e do próprio inquérito, o juiz decidiu que a prisão preventiva seria a medida mais «adequada», para proteger a vítima e repor a paz social.

bárbara, primeiro presa em tires, agora em prisão domiciliária, e rodolfo, preso na zona prisional da polícia judiciária, estão indiciados do crime de ofensa à integridade física qualificada, sendo que o jovem ainda terá de responder pelo crime de gravações ilícitas. juntaram-se assim aos 45 jovens, entre os 16 e 18 anos, que já estavam presos preventivamente.

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