E.coli: Festas do 10 de Junho na Alemanha sob vigilância

As autoridades alemãs recomendam a interrupção do consumo de vegetais crus. E nem as festas populares escaparam ao controlo. O 10 de Junho festejado pelos portugueses em Hamburgo estará sob vigilância.

manuel loureiro, emigrante português que reside em hamburgo (cidade onde surgiu o surto), contou ao sol que o zelo das autoridades chega ao ponto de fiscalizar o que se come em festividades. «vamos ter uma festa de portugueses neste fim-de-semana, a propósito do 10 de junho, e a câmara municipal de cá interveio e perguntou-nos se iríamos consumir legumes crus. e, no dia da festa, irão controlar, a ver se consumimos ou não» – relata aquele que é o tesoureiro do grupo cultural retalhos de portugal.

manuel loureiro, tal como graça peres, residente em frankfurt, ou teresa martins, moradoraem münster, deixaram de comer saladas. os três emigrantes portugueses, contactados pelo sol, admitem ter alterado os hábitos de consumo alimentar, com receio de contaminação.

as autoridades «têm recomendado expressamente que se cesse o consumo de vegetais de folha, tomate, pepino, pimento, rebentos de soja e rebentos de todo o tipo, ou seja, tudo o que seja frescos», evidencia ao sol a economista graça peres. «dão a entender que, se os produtos forem cozidos não há problemas, mas a informação passa subtilmente», acrescenta.

os restaurantes e escolas espelham esse temor e deixaram de disponibilizar saladas. nos supermercados, houve um decréscimo de frescos à venda. graça peres nota, a título de exemplo, que as cantinas frequentadas por funcionários de bancos, na baixa de frankfurt, também deixaram de servir vegetais crus.

além disso, naquela cidade, «os pequenos mercados estão a ser muito afectados e os supermercados deixaram de ter saladas pré-preparadas». a economista ilustra: «os produtos espanhóis desapareceram das prateleiras, quando 80% dos frescos era de origem espanhola. agora, o tomate passou a ser de origem alemã e holandesa».

teresa martins, reformada, conta ao sol que, no fim-de-semana passado, foi a um restaurante em münster e notou que «deixou de haver alface e tomate, só feijão verde».

depois de as suspeitas da origem do surto da bactéria e.coli terem recaído sobre pepinos, beringelas, pimentos e alfaces, foi a vez de os rebentos de soja estarem na mira das autoridades alemãs. mas, os testes iniciais foram negativos. e, segundo afirmou esta semana guenael rodier, especialista da organização mundial de saúde, corre-se mesmo o risco de não se chegar a saber o que esteve base da morte de 26 pessoas (25 na alemanha e uma na suécia) e na contaminação de quase três mil: «se não descobrirmos o provável culpado no prazo de uma semana, podemos nunca descobrir a causa». o epidemiologista michael osterholm, da universidade do minnesota, asseverou que «esta investigação está a ser um desastre».

as críticas não ficam por aqui. também a união europeia (ue) veio dar ‘um puxão de orelhas’ à alemanha devido aos alertas feitos sem base científica. anteontem, o comissário europeu para a saúde, john dalli, alertou: «é essencial que as autoridades não se precipitem a dar informação que não esteja comprovada com análises bacteriológicas porque isto cria um medo injustificado na população de toda a europa e cria problemas para os produtores de alimentos dentro e fora da ue».

liliana.garcia@sol.pt