Analistas financeiros ‘vendem’ gato por lebre

Quem investe em bolsa e segue opiniões de analistas financeiros para decidir onde gastar o dinheiro, deve redobrar a atenção. O Relatório Anual de Supervisão da Actividade de Análise Financeira, apresentado ontem pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), mostra que as recomendações de investimento têm um «enviesamento» no sentido da compra de acções.…

o estudo da cmvm incidiu na actividade de análise financeira sobre acções cotadas em portugal, entre 1 de outubro de 2009 e 30 de setembro de 2010. ao nível das recomendações de investimento, os técnicos da cmvm verificaram que as recomendações para aquisição de acções representam 57,4% do total, enquanto as recomendações de venda representaram apenas 13,6% (29% para manter).

a cmvm classifica esta tendência como um «enviesamento» e alerta que as recomendações têm efeito nas cotações dos títulos, sobretudo as recomendações de venda. segundo o supervisor, «a divulgação de relatórios de análise financeira, e em especial as recomendações de investimento e os preços-alvo incluídos, conduz frequentemente a variações anormais nas cotações», que chegam a ser superiores a 3%.

apesar de haver alguma capacidade de previsão de curto prazo, os erros nas projecções a um ano ou mais são considerados «muito relevantes». no caso de price targets a um ano, por exemplo, apenas 18,2% das análises evidenciaram uma diferença percentual inferior a 10% entre o preço de mercado no final do horizonte temporal e o preço-alvo. ou seja, mais de 80% dos relatórios tinha erros de previsão superiores a 10%. «a capacidade de acerto dos analistas financeiros é reduzida», conclui a cmvm.

para ilustrar melhor a margem de erro das análises, foi simulada a evolução de uma carteira de investimento inicial de 100 mil euros, com base nas recomendações das instituições, em que os pesos dos títulos dessa carteira eram aumentados ou diminuídos consoante o sentido das recomendações.

os resultados do conjunto de 10 intermediários em análise mostraram que, se fossem seguidas as recomendações, haveria uma perda de 14% do valor investido. se os 100 mil euros fossem gastos numa carteira que replicasse exactamente o psi-20, sem compra ou venda de acções em todo o período, as perdas seriam de apenas 8,35%.

desta forma, a cmvm conclui que «teria sido preferível não seguir as recomendações de investimento e optar por uma estratégia de investimento passiva». a grande maioria das car_teiras não conseguiu superar o psi-20, «não se traduzindo essas recomendações numa mais-valia».

 

joao.madeira@sol.pt