as leis da fifa não se vergam à lei islâmica – foi a mensagem enviada pela associação que regula o futebol mundial ao impedir a selecção feminina iraniana de entrar em campo para defrontar a jordânia, num jogo de qualificação para os jogos olímpicos de londres, em 2012.
o encontro ia realizar-se em amã, dia 3, e a equipa do irão foi penalizada com uma derrota por 3-0. as jogadoras, cobertas dos pés à cabeça – com calças, camisola de manga comprida e um lenço a envolver o cabelo, as orelhas e o pescoço, conforme manda a lei islâmica, obrigatória no irão –, desfizeram-se em lágrimas.
farideh shojaei, que dirige o futebol feminino no seu país, afirmou à reuters que no ano passado a sua selecção já tinha alterado o equipamento, em resposta às regras da fifa, e que essas alterações tinham sido aceites, pelo que não compreende a actual decisão: «fizemos as correcções solicitadas e jogámos um encontro. jogámos a ronda seguinte, sem termos sido impedidas de o fazer, e não encontraram nada de errado. isso significou que não havia obstáculos no nosso caminho e que podíamos participar nos jogos olímpicos».
contactada pela reuters, a fifa defendeu-se: as selecções da jordânia e do irão foram avisadas das regras de vestuário antes do jogo – e algumas futebolistas jordanas não alinharam pela sua equipa. «a decisão da fifa, de março de 2010, que permite que as jogadoras usem algo para cobrir a cabeça, até à linha do cabelo, sem tapar as orelhas nem o pescoço, continua a aplicar-se». mais: «apesar das garantias iniciais de que a delegação iraniana tinha compreendido isto, as jogadoras entraram com o hijab, e a cabeça e o pescoço totalmente cobertos, o que é uma violação das regras do jogo».
a federação iraniana vai apresentar uma queixa à fifa, mas o apuramento para os jogos olímpicos é improvável. os estatutos do organismo dirigido por joseph blatter, referentes às olimpíadas, também são claros: «jogadores e árbitros não podem exibir mensagens políticas, religiosas, comerciais ou pessoais nem slogans em qualquer língua ou firma nos seus equipamentos». com ou sem selecção, seria impossível às iranianas, no seu país, ver um jogo de futebol. a lei islâmica proíbe a presença de mulheres nos estádios – nem podem ver os encontros transmitidos nas salas de cinema, com os homens.
ana.c.camara@sol.pt