a 27 de junho é dia de 4. o quarto álbum de beyoncé knowles demorou um ano a ser preparado, e o primeiro single já editado, ‘run the world (girls)’, foi apresentado pela primeira vez ao vivo na gala dos prémios de música da billboard, em maio. na cerimónia, em las vegas, a cantora texana de 29 anos foi também homenageada com o galardão de artista do milénio.
em entrevista à billboard, ‘queen b’ tinha esclarecido o porquê de 4: «todos temos um número especial nas nossas vidas e 4 é o meu número. é o dia em que nasci. o dia do aniversário da minha mãe e de muitos dos meus amigos. e 4 de abril é o dia do meu casamento».
no último ano, a cantora tem acumulado sucessos. a revista forbes elegeu-a a mais bem-sucedida jovem celebridade (com menos de 35 anos) do mundo do entretenimento e estimou os seus rendimentos entre junho de 2009 e junho de 2010 em cerca de 87 milhões de dólares. em 2010, fez história ao tornar-se a primeira mulher a arrecadar seis grammys na mesma noite, em 52 anos de galas dos prémios de música norte–americanos. agora, está a trabalhar com o realizador clint eastwood no remake de assim nasce uma estrela, «um sonho feito realidade», como disse à revista billboard.
mas continua a ser a música que a move – há 20 anos. «é preciso disciplina, concentração. o meu sucesso não aconteceu da noite para o dia, trabalhei para isso», disse ao 60 minutes.
a voz poderosa da pequena beyoncé, tímida e calada, foi descoberta pelo professor de dança, que começou a levá-la a concursos para cantar. a mãe, tina knowles, recordou à revista ebony, em 2001: «ela só queria ser invisível. mas quando subia para o palco e cantava o ‘imagine’, não acreditávamos que era a mesma miúda. revelava-se a sua confiança. era aplaudida de pé». o pai, matthew knowles, acrescentava: «deve ter entrado nuns 30 concursos. e ficou em primeiro lugar em todos».
com um talento especial, aos 9 anos beyoncé projectava a voz na cadeia de supermercados walmarts. queria actuar, confessou à cbs. os pais investiram nela. matthew, vendedor de topo da xerox, tornou-se o seu manager (até março de 2011) e tina, dona de um dos cabeleireiros mais na moda em houston, fez-se designer e hairstylist: desenhava – e por vezes costurava – as roupas e penteava beyoncé e as três amigas que se lhe juntaram, na formação inicial de uma girls band.
na casa dos knowles, as quatro meninas treinavam coreografias, tinham aulas de voz, aprendiam a comportar-se para quando falassem com a imprensa. os nomes da banda sucederam-se – girls tyme, something fresh, cliché, the dolls e destiny. até que, no contrato assinado com a columbia records em 1995, passaram a chamar-se destiny’s child, um sucesso de r&b. o álbum de estreia, destiny’s child (1997), abriu caminho, tinha beyoncé 15 anos. seguiu-se the writing’s on the wall (1999), com êxitos como ‘say my name’; survivor (2001) somou hits como ‘bootylicious’; e destiny fulfilled (2004) encerrou a carreira da formação, já reduzida a trio.
knowles estava preparada para singrar a solo, apenas como beyoncé. em 2003 editou dangerously in love e ganhou cinco grammys, e em 2006 b’day, sempre com singles a chegar aos tops. com i am… sasha fierce (2008), voltaria a bater recordes, arrecadando seis grammys e pondo meio mundo a trautear ‘single ladies (put a ring on it)’.
talento firmado na música, a americana enveredou por outros caminhos – em 2001 protagonizou o telefilme carmen: a hip hopera; chegou ao grande ecrã como a foxxy cleopatra de austin powers em membro dourado (2002); contracenou com cuba gooding jr. em the fighting temptations (2003); acompanhou steve martin, kevin kline e jean reno n’a pantera cor-de-rosa (2006). foi a actriz principal na adaptação do musical da broadway dreamgirls (2006) e, novamente a cantar, interpretou a cantora etta james em cadillac records (2008), sobre os artistas que gravavam para a editora chess records, nos anos 50 e 60.
ainda em negócios paralelos, beyoncé já emprestou a cara, a voz ou o corpo a marcas como l’oréal, pepsi, tommy hilfiger, armani. em 2004, com a mãe, lançou a linha de moda house of deréon, e em 2010 voltou a dar que falar com o perfume heat. a campanha publicitária, protagonizada pela própria, parcamente vestida de vermelho e ao som da sua versão de ‘fever’, foi considerada demasiado fogosa pela entidade reguladora do sector publicitário britânico: «os movimentos corporais de beyoncé e os demorados planos da câmara focando o vestido que desliza e expõe parcialmente os seus seios criaram um anúncio sexualmente provocante, impróprio para ser visto por crianças», alertaram os reguladores em comunicado. o anúncio só pôde ser emitido depois das 19h30.
à cbs, beyoncé tinha assumido a sua sexualidade sem tabus: «sou livre. e posso exprimir a minha sensualidade. posso exprimir a minha dor, vulnerabilidade, a minha força». é o que faz, em palco.
já deu várias voltas ao mundo em tournées. e, em viagem, percebeu quão universais são as suas músicas – no que diz respeito a relações, as mulheres debatem-se com os mesmos problemas, dúvidas e vontades. e identificam-se com as canções de beyoncé, que têm tudo que ver com independência e ser dona do seu próprio nariz. «a minha música é tão poderosa! no egipto havia mulheres de burca a cantar ‘to the left, to the left’», relatou, ainda espantada, acerca das egípcias que debitavam a letra de ‘irreplaceable’, canção sobre uma jovem que põe na rua o homem adúltero.
a artista, que já vendeu mais de 118 milhões de discos e foi capa de revista 200 vezes, ainda reza antes de cada concerto. e afirma manter-se humilde, pregando o poder para as mulheres. «o poder é felicidade, é trabalhar no duro e é sacrifício. para mim, trata-se de ser um bom exemplo e de não abusar desse poder! é preciso continuar humilde: vi como se pode liderar pelo exemplo e não pelo medo», contou à billboard a mulher, marca e ícone do poder no feminino, beyoncé knowles.
ana.c.camara@sol.pt