veio-me parar à mão um livrinho de bolso, com menos de 100 páginas (e com um custo à volta de uns módicos € 5), que, numa linguagem simples e clara, ajuda a perceber melhor as razões da crise que estamos a suportar, não apenas em portugal, mas em toda a europa. da autoria de quatro economistas e subscrito por mais de seiscentos, manifesto dos economistas aterrados – crise e dívida na europa – 10 falsas evidências – 22 medidas para sair do impasse desfaz, um a um, os mitos da ortodoxia liberal e alerta-nos para os efeitos dramáticos que esta teve para a europa, que acusam de, nos últimos 30 anos, ter abdicado de considerar como prioridade «reencontrar o caminho do crescimento económico», optando pela «luta contra os défices públicos». os autores declaram-se «aterrados» pela cegueira com que se persiste nesta lógica neo-liberal que, «fundada na hipótese da eficiência dos mercados financeiros, preconiza a redução da despesa pública, a privatização dos serviços públicos, a flexibilização do mercado de trabalho, a liberalização do comércio, dos serviços financeiros e dos mercados de capital (…)»
este livrinho vem muito a propósito numa altura em que um novo governo acaba de tomar posse e em que o primeiro-ministro assenta muito da sua política numa sucessão de privatizações de serviços públicos (ao mesmo tempo que ataca essa forma velada de privatizações que são as ppp!), alegadamente para reduzir o défice público, e que, a concretizarem-se teriam efeitos desastrosos e irreversíveis para o país: tap, águas, parte da caixa geral de depósitos e da saúde. e um dos canais da rtp.
centremo-nos neste último ponto – uma obsessão de passos coelho, que não obedece a nenhuma lógica, e que levanta a legítima suspeita de querer apenas satisfazer putativos candidatos a apropriarem-se desse instrumento de poder que é hoje um canal generalista de tv. a menos que o primeiro-ministro aprenda com o seu correligionário moraes sarmento e recue a tempo, teremos ocasião de voltar ao tema que ainda irá fazer correr muita tinta. o problema da paisagem audiovisual ultrapassa em muito esta originalidade de querer privatizar (porquê?) um dos canais públicos – coisa que, até hoje, só a frança, nos anos 80, pôs em prática, com resultados desastrosos para a vida pública francesa, mas mantendo, mesmo assim, dois canais públicos e nacionalizando um terceiro: a arte. à volta da tv, muitas outras questões se devem levantar que, essas sim, exigem respostas urgentes. fiquemo-nos por duas: o que é que o novo governo propõe relativamente à obrigatoriedade de introduzir a televisão digital terrestre (tdt) em todo o território até 26 de abril de 2012, que alarga o espectro de oferta hertziana para seis multiplexers no litoral e três no interior, e para a qual não há até agora qualquer plano nem qualquer perspectiva? segunda pergunta: como é que passos coelho tenciona financiar uma indústria de conteúdos?
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