a lua cheia será maior quando nasce em portugal, ou é só impressão minha?
foi nisto que pensei quando, no fim de semana passado, vi o satélite da terra a trepar languidamente pelo firmamento, como quem patina em câmara muito lenta, imenso, de um amarelo tão torrado que fazia inveja a qualquer catálogo de pantone, para pôr a sonhar quem vive cá em baixo.
definitivamente, a lua é maior em portugal, excepto naquelas ilhas românticas onde casais apaixonados se escondem do mundo e por vezes de si mesmos, numa tentativa de encontrar no outro todas as respostas às dúvidas que a vida se encarregou de ir acumulando nos seus corações.
há uns anos, enquanto passava uma semana de férias numa dessas ilhas, conheci um homem com 40 anos que passeava sozinho na praia. e, numa dessas noites de lua cheia e tão perto que pensámos poder tocá-la com a ponta dos dedos, juntou-se à minha mesa, bebeu sem parar e disse: «este é o dia em que me devia ter casado». tinha deixado a noiva plantada no altar, sem sequer a avisar que estava a milhares de quilómetros de distância e a milhares de anos-luz do coração dela. «então e agora?», perguntei-lhe. «agora, quero viver», respondeu.
a lua também era gigante nessa ilha, talvez por isso me tenha vindo à memória o episódio quando dei por mim a contemplá-la da minha varanda e a pensar nas voltas que a vida dá.
onde andará esse múltiplo infinito de che guevara, agora certamente mais gordo, mais velho e com menos cabelo? será que casou mais tarde, com outra mulher? sim, porque quando uma noiva foge, pode ser que ainda volte, mas quando um noivo foge, é para sempre. será que é feliz, teve dois ou três filhos, montou um negócio, tornou-se sedentário, próspero e fiável? ou manteve a sua postura errante e nunca casou?
durante muitos anos, pensei que o casamento era uma seca, um fardo, um tormento. encarava a rotina com espírito bélico e fazia-lhe todas as fintas que podia. mas a realidade é evolutiva, o que foi verdade ontem pode ser mentira hoje. e hoje gosto infinitamente mais de estar acompanhada. não sei se quero um marido, mas sei que quero um para-marido; alguém que gosta mesmo de mim, que se preocupa mesmo comigo, que me faz mesmo boa companhia e que está lá sempre que é preciso. alguém que usa palavras como ‘muito’ para dizer que gosta e que não me falha nos momentos mais chatos e também nos mais difíceis.
o futuro das relações passa por aqui. passa por estar bem e sentir segurança sem ter de assinar papéis nem dar uma grande festa com as tias embrulhadas em sedas cor de salmão, os tios a transpirar do cachaço e as criancinhas espartilhadas em vestidos de bordado inglês. o futuro está no conteúdo e não na forma. um para-marido tem todas as vantagens de um marido, sem os respectivos defeitos; se não ajuda na lida da casa, recebe-nos em casa dele, e se ressona, sai depois do jantar mas antes da hora de dormir.
estarei a ficar cínica? ou comodista? nada disso. gosto é de olhar para a lua cheia e de sentir saudades dele de vez em quando, mesmo que raramente dele me separe.