A rapariga era vistosa. vestido justo e curto, um cabelo longo bem cuidado e um sorriso largo que se via ao longe. Do alto do seu quase 1,80 m – em cima dos saltos, é claro – podia observar o que se passava ao seu redor, enquanto bebia vodkas, fumava cigarros finos e olhava para o telemóvel. Eram vários os rapazes ‘meio bebidos’ que passavam por ela e lhe tentavam tocar. Alguns proferiam umas palavras sem nexo, enquanto outros quase lhe deitavam o copo ao chão. Estava nisto há um bom bocado quando surgiu um rapazola todo estiloso com telefone na mão e se colocou à sua frente. Artista das pistas, seguramente, tal a desenvoltura, o homem ligou o Bluetooth e rodopiou como se estivesse numa arena, passando depois por detrás da presa.
Habituada seguramente a estes números, a rapariga recusou o convite de estabelecer ligação, o que deixou o rapaz incrédulo a olhar para o telemóvel. Sem desistir, voltou a tentar ligar-se com a mulher vistosa. Como esta estava acompanhada por um amigo, decidiu dar uma volta, embora não tivesse intenção de não voltar. Percebia-se que o episódio iria ter uma sequela. E assim aconteceu quando a rapariga ficou sem a companhia do amigo. O problema foi que o ‘mariolão’ não gostou de levar uma segunda nega e ficou com cara de poucos amigos. Problema resolvido quando chegou o acompanhante da mulher. Aí, desistiu de vez, levando o seu sinalizador de contactos, leia-se telemóvel que entra em sintonia com aqueles que tenham o Bluetooth ligado, para outras paragens. A rapariga sorriu quando o viu afastar-se e ‘gozou’ discretamente com a situação.
Comentava este episódio a que tinha assistido com uns amigos, quando eles me disseram que é uma técnica já velhinha e que são muitos os que a usam.
Nessa noite bem divertida, na abertura do Tamariz, no final reparei numa rapariga que chorava. Antes tinha-a visto dançar freneticamente e sorridente. Umas horas depois, apresentava sinais de tudo aquilo que não deve ser a noite: tristeza. Tristeza que se notava mais no meio de tantos rostos alegres…
vitor.rainho@sol.pt