Viva Villas-Boas

Agora é pecado querer ganhar mais títulos e dinheiro? Mas não é esse o objectivo do desporto? O amor à camisola não passa de uma ideia romântica

o mundo do desporto, e do futebol em particular, regem–se por regras muito distantes daquelas que o criador dos jogos olímpicos da era moderna protagonizava. se pierre coubertin defendia o amadorismo – e que mais importante do que vencer era competir –, os dias de hoje pouco ou nada têm a ver com esses ideais. o desporto transformou-se numa das maiores indústrias mundiais e o amor à camisola não é uma utopia, mas não passa de uma ideia romântica em que gostamos de acreditar.

há atletas que ganham milhões, mas que por mais uns trocos são capazes de trocar de clube, quando antes tinham declarado amor eterno à equipa de onde fugiram. nesses casos parece-me absurdo que se hipoteque a eternidade em troca de uns tantos milhares de euros. nunca consegui compreender, por exemplo, qual a razão de luís figo ter trocado o barcelona e a catalunha pelo real e por madrid, quando era e podia continuar a ser um pequeno deus na terra de gaudí.

ele terá as suas razões, mas quem está de fora gosta de olhar para a vida dos outros com o tal romantismo. os jogadores são injustos com quem apostou neles, mas os clubes também usam os mesmos argumentos. esta semana, o mundo futebolísitco português viveu momentos de grande emoção/comoção com o anúncio da contratação do treinador andré villas-boas por parte do chelsea. o treinador de 33 anos jurara no passado que amava o fc porto e que nada o faria abandonar a nação portista.

quando o magnata russo abramovich, dono do clube inglês, anunciou que pagaria os 15 milhões de euros da cláusula de rescisão a que estava obrigado villas-boas, foram muitas as figuras que demonstraram a sua desilusão, como se o mundo tivesse passado a ser uma enorme nuvem cinzenta, sem valores e onde apenas o dinheiro interessa. é estranho, pois além do dinheiro, o jovem treinador não quererá fazer melhor do que o seu ex-guru, josé mourinho? que com este passo já ficou na história do futebol como a transferência mais cara de sempre de um treinador? portugal não tem qualquer hipótese de segurar os seus melhores jogadores e treinadores.

veja-se o caso da holanda, um país onde não se fala de fmi e de bancarrota. não há um único jogador ou treinador de primeiro plano que se aguente mais do que dois anos a dar nas vistas na terra das tulipas sem ser contratado pelos clubes dos países, teoricamente, mais ricos. é pena é que não haja mais villas-boas no futebol português que encham os cofres nacionais. pinto da costa, presidente do fc porto, sabe perfeitamente quais são as regras do jogo.

apostou nele o ano passado quando era um perfeito desconhecido? é mentira. o sporting queria-o como seu técnico, mas o porto deu mais e lá foi o antigo colaborador de mourinho treinar os dragões. até porque acreditava que dessa forma iria ter mais sucesso. no fundo, o mesmo que se passou agora.

vitor.rainho@sol.pt