José Sócrates tinha um bacharelato no Instituto Superior de Engenharia Civil de Coimbra, concluído em Julho de 1979 com média de 12 valores. Passados 15 anos, o então deputado do PS cuja biografia já aparecia nos livros oficiais do Parlamento como «licenciado em engenharia civil», inscreveu-se nesse curso no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL). Frequentou o ano lectivo de 1994/95 e teve aproveitamento em dez cadeiras semestrais, ficando por concluir 12. No ano seguinte, inscreveu-se na Universidade Independente (UnI) e pediu as equivalências necessárias. A versão oficial é a de que a comissão científica da Faculdade de Ciências da Engenharia e Tecnologia concluiu que teria que frequentar apenas mais cinco cadeiras para ter a licenciatura – o que aconteceu com aproveitamento.
Eurico Calado, director da faculdade, afirmou ao Público, em 2007, que quatro das cinco cadeiras em questão «não estavam a funcionar em 1995/96» (ano em que o diploma de Sócrates atesta que este as frequentou). Tudo por que as mesmas correspondiam ao 3.º e ao 5.º anos de Engenharia Civil, que nesse ano lectivo ainda não estavam a funcionar.
José Sócrates sempre contestou, recordando que tinha frequentado algumas aulas com outros alunos e que tinha sido aprovado nos exames. Tais cadeiras – cujas notas foram lançadas todas no mesmo dia – tinham como professor António José Morais, então director do Departamento de Engenharia Civil da UnI e subordinado de Armando Vara no Ministério da Administração Interna. Morais sempre negou, contudo, qualquer favorecimento de Sócrates.
Outra questão reside no facto de o diploma que atesta a qualidade de licenciado de José Sócrates, ter sido assinado a um domingo pelo reitor Luís Arouca.
Inquérito arquivado
Finalmente, na cadeira de Inglês Técnico, Luís Arouca apenas exigiu a Sócrates a manutenção de «várias conversas em inglês» e a realização de uma composição de duas páginas, escrita em casa, que classificou com 15 valores.
Após queixa de um advogado, o procurador-geral da República abriu um inquérito, centrado na suspeita do crime de falsificação de documento (do certificado de habilitações). Se Sócrates tivesse sido beneficiado, o certificado de conclusão da licenciatura seria falso.
A directora do DCIAP, que dirigiu a investigação, concluiu, porém, «que não houve qualquer tratamento de favor a Sócrates», pois outros alunos da UnI tiveram o mesmo tratamento. A magistrada escreveu ainda no seu despacho de arquivamento que a «luta entre professores e diversos departamentos, são, em grande medida, causa directa do ambiente de facilitismo proporcionado aos alunos» da UnI.