Vem esta conversa a propósito das folclóricas manifestações intituladas Slutwalks ou Marcha das Galdérias. Vamos à história. Um polícia canadiano tontaço foi a uma universidade de Toronto defender a ideia peregrina de que a melhor forma de as mulheres evitarem ser violadas era deixarem de se vestir como umas galdérias.
A história passou-se em Janeiro e, desde então, a comoção tomou conta de raparigas indefesas que se manifestaram em mais de 70 cidades por esse mundo. Vestidas para matar, de freiras ou de bimbas, muitas empunhavam cartazes a dizer que têm todo o direito de se apresentarem como galdérias sem que isso dê o direito a quem quer que seja de as importunar. Não posso estar mais de acordo, embora tenham que ter cuidado com a zona que frequentam.
A este propósito recordei-me de um episódio que ficou célebre nos tempos em que existiam verdadeiras dondocas que faziam as delícias da única revista do social, que dava pelo nome de Olá!, do jornal Semanário. Conta-se que uma das proeminentes figuras do social achava-se tão à frente que pediu ao marido para a levar até ao Elefante Branco, a mais afamada casa de alterne de Lisboa. Queria ir jantar a um lugar exótico e o Bananas e o Ad Lib, as boîtes então em voga, já não tinham glamour suficiente. Pouco depois de ter entrado no Elefante Branco, um cliente dirigiu-se-lhe e perguntou-lhe qual o preço que cobrava por determinado serviço. Ficou muito indignada e foi-se embora.
Mas voltemos às nossas galdérias actuais. Dizem também nos cartazes que podem vestir-se como quiserem, mas não estão para ser importunadas, leia-se não querem ouvir um piropo ou uma tentativa de sedução. Mas o mundo está louco? Como é que seria o mundo sem sedução? Carregava-se num botão na internet e aparecia o desejo? Que as pessoas não importunem as outras, parece-me claro como a água. Agora que não possam mostrar agrado, roça a tonteria.
vitor.rainho@sol.pt