o miserabilismo é algo que vende. as pessoas gostam de desgraças e uma boa intriga é sempre bem-vinda. por essa razão, há revistas e jornais portugueses que optam por seguir essa máxima de uma forma cega. mas se os dramas vendem como pãezinhos quentes, também as histórias dos ‘ricos’ ajudam a aumentar as audiências. por cá chega-se ao cúmulo de ‘criar’ riquinhos que mal têm dinheiro para tomar o pequeno-almoço na tasca da esquina, quanto mais para outros voos. mas como é preciso carne fresca para vender, agarram numa catrefada de gente que não se importe de esperar horas em aeroportos, levam-nos para um destino turístico em promoção e depois é só tirar-lhes fotografias e dizer que o fulano tal está apaixonadíssimo pela fulana y e que para mostrar o seu amor foram passar um fim-de-semana de sonho a paris ou a outra localidade que tenha parques infantis. até aqui nada de mal. vendem ilusões e há quem precise delas para superar a sua chatice de vida.
o que acho altamente condenável é que os mesmos responsáveis que fazem essas manobras de diversão, com patrocínios é certo, se preocupem em andar constantemente atrás de quem verdadeiramente gasta dinheiro e faz a economia avançar. «cristiano ronaldo dormiu num hotel que custou 300 euros por noite»; «simão jantou num restaurante por 50 euros»; «herman alugou um barco que custou 500 euros», e por aí fora. além dos valores, regra geral, serem mesquinhos, o que fazem é péssimo para a economia nacional. alguém está para levar constantemente com estes filmes miserabilistas? se forem para ibiza, nova iorque, trancoso, sidney ou para as ilhas das caraíbas ninguém, normalmente, ficará a saber o que gastaram e com quem gastaram.
as lojas da avenida da liberdade, em lisboa, são das mais caras que existem. mas há em lisboa como em qualquer outra cidade da europa. quem é que quererá estar sempre a levar com os títulos de primeira página a dizer que gastou uma fortuna na loja tal?
não entendo a obsessão de alguns pelos gastos dos outros, mas é algo que está enraizado na cultura portuguesa: a inveja e a mesquinhez. não ficaria mal a essas publicações ‘sacarem’ a história pela positiva e fazerem com que essas estrelas tivessem vontade de voltar a fazer férias em portugal, deixando dessa forma cá o dinheiro e contribuindo para o desenvolvimento do comércio nacional. uma vez um amigo explicava-me que determinado empresário de sucesso optava, em férias nacionais, por gastar pouco dinheiro, chegando ao cúmulo de dividir a refeição com a mulher. já quando chegavam a nova iorque tratavam de beber, no mínimo, pétrus a 300 euros. sem holofotes nem más-línguas…
vitor.rainho@sol.pt