Nas Bocas do Mundo – Ratko Mladic

De chapéu de estilo militar na cabeça, entrou no Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, em Haia, fez a continência aos magistrados e para as galerias e começou por indicar em sérvio qual o lugar em que quer ser julgado: «Sou o general Ratko Mladic».

O homem acusado de genocídio por ter mandado matar mais de oito mil homens e crianças em Serebrenica, Bósnia, alternou a arrogância com falsa ingenuidade na primeira audiência: «Sou um homem gravemente doente. Preciso de um pouco mais de tempo para pensar nas coisas que estão a ler. Por favor, tenha isso em conta, seja paciente», disse depois ao juiz holandês Alphons Orie. Além de genocídio, Mladic é julgado por extermínio, deportações, crimes contra a humanidade e ataques indiscriminados contra a população civil (comandou o cerco a Sarajevo, o maior dos tempos modernos a uma cidade), e ainda a tomada de reféns (de elementos das Nações Unidas).

A natureza do «carniceiro da Bósnia» ficou à vista de todos. Provocou familiares das vítimas que estavam nas galerias, apoucou o juiz e o tribunal, recusou ser representado pelo advogado de defesa e escusou considerar-se inocente ou culpado, tendo pedido 30 dias para digerir as «acusações monstruosas» de que é alvo e que diz ter ouvido pela primeira vez. Por fim, conseguiu ser expulso por não respeitar o tribunal. Eis alguém que não merece o chão que pisa – e é preocupante saber que é um herói para milhares de sérvios.

César Avó