Se eu já lá ia quando tinha 17… À volta da conversa estavam pessoas com interesses bem diversos no tema.Uns habituados a ganhar a vida a divertir os outros; um segundo grupo que está mais treinado para não deixar que o divertimento de alguns seja um incómodo para outros; e um terceiro, que não era propriamente um grupo, pois apenas tinha um elemento e é um antigo e actual frequentador de bares e discotecas.
A questão fundamental era: «É possível em Portugal existir uma discoteca que se possa dar ao luxo de seleccionar criteriosamente a clientela?». A resposta foi negativa e os argumentos utilizados nem foram assim tão poucos. À cabeça, falou-se do excesso de oferta e da falta de gente que possibilite fazer tal triagem. Há muitos clientes, mas o grosso da população ficaria à porta se os critérios fossem os de outros tempos. Depois abordou-se o facto de muitos ‘pintas’ conseguirem intimidar os responsáveis das casas, fazendo com que o ambiente desça de nível e muito. Sejam ‘pintas’ dos bairros problemáticos ou ‘pintas’ de famílias endinheiradas. Outro argumento foi o de que muitos dos que pululam pela noite têm interesses no ramo. Ou são relações públicas ou promotores e nunca podem, por isso, ser considerados verdadeiros clientes. Não faltavam outras razões para a impossibilidade total de uma discoteca fazer uma selecção exigente à porta. Um bar já é diferente, os custos são muito menores, mas mesmo assim é difícil.
Enquanto se trocavam argumentos pensei num que ninguém referiu, talvez por falta de memória. No tempo da selecção feroz havia menos discotecas em Lisboa do que aquelas que agora existem só à beira-rio. Aliás, havia boîtes que eram quase todas mais pequenas do que alguns bares de hoje. A democratização trouxe um abaixamento da clientela, mas também contribuiu para a descoberta de novos talentos. E a noite, como sempre, acaba por ser engraçada se se tiver com um grupo divertido e desde que não existam cenas de pancada à nossa volta.
vitor.rainho@sol.pt