Atrás do prejuízo

O que a Moody’s veio dizer é inconveniente, inoportuno (…) mas é uma posição tecnicamente defensável.

vivemos tempos da maior incerteza. sobretudo na europa e, mais ainda, em portugal. no nosso caso, os problemas agravaram-se, inesperadamente, quando na semana passada a dívida soberana portuguesa foi alvo de um corte de quatro níveis na respectiva notação por parte da agência de rating moody’s. investir em títulos da dívida portuguesa passou a ser, ‘oficialmente’, um acto de (ainda mais) elevado risco, uma vez que a moody’s considerou como bastante provável a participação de agentes privados pelo menos num reescalonamento futuro da dívida portuguesa. a agência considera que, no final de 2012, portugal não estará em condições de voltar a emitir dívida em mercado, como decorre do programa de ajuda assinado com os credores representados pela troika fmi-bce-ce.

independentemente de ter sido absolutamente inoportuno, de se poder questionar o contraponto entre o zelo actual e a atitude passada destas agências – nomeadamente, no que respeita à notação de risco das dívidas soberanas dos diferentes estados –, o seu aparente preconceito face ao euro e à europa continental por oposição à brandura com que tratam os emitentes soberanos anglo-saxónicos dos dois lados do atlântico, o facto é que o que a moody’s veio dizer é inconveniente, inoportuno, levou a vendas maciças no nosso mercado de capitais, mas é uma posição tecnicamente defensável. como já tive a oportunidade de afirmar, esta redução violenta da notação de risco da dívida soberana portuguesa veio penalizar portugal, por essencialmente duas razões, ambas verdadeiras: a governação anterior deixou a economia portuguesa e as suas finanças públicas numa situação insustentável, sem paralelo na nossa história económica recente, e a solução europeia para as dívidas soberanas dos países periféricos é parcial, insuficiente e implicará necessariamente novas medidas.

as reuniões do eurogrupo e do ecofin da passada segunda-feira revelaram-se inconclusivas quanto à absolutamente necessária solução para a grécia. para que portugal se possa distanciar deste país em termos da percepção que os mercados possam vir a construir quanto à nossa efectiva vontade de cumprir o acordado com os credores, o país precisa de algum tempo. e só haverá a possibilidade de reganhar a credibilidade se a europa não se encontrar perante um ‘default’ descontrolado na grécia nos próximos tempos.

como a subida dos juros da dívida de itália mostra, os investidores andam nervosos e valorizam todas as más notícias ignorando os fundamentais económicos de base. a itália é um país do sul, tem uma enorme dívida pública – mas a parte detida por estrangeiros é de apenas 21% do seu pib – tem uma enorme poupança interna, um sistema financeiro pouco alavancado e o seu funding junto do banco central europeu é quase negligenciável. acresce que apresentou um superavit primário. tudo isto foi desvalorizado pelos mercados que se concentraram no adiamento de novas medidas, na prática, para depois das próximas legislativas.

neste contexto, as instituições europeias – comissão, conselho, eurogrupo – e os seus principais políticos hesitam e tardam em apresentar soluções credíveis. parecem andar apenas ‘atrás do prejuízo’. só que este é cada vez maior.