Começou a corrida aos cargos no Estado

Nas próximas semanas, o Governo irá dedicar-se à nomeação de centenas de gestores para as administrações de cerca de 40 empresas do Estado cujos mandatos actuais já terminaram, apurou o SOL. Além disso, é preciso tratar da nomeação de mais de 1.200 dirigentes superiores na Função Pública.

o executivo de pedro passos coelho já começou a fazer as suas escolhas para ocupar os cargos livres. e o tiro de partida das nomeações é dado hoje com a nomeação da nova equipa que vai liderar a caixa geral de depósitos (cgd).

tal como o próprio pretendia – e sugeriu ao accionista estado – o actual ceo, faria de oliveira, passa a chairman, num novo modelo de governo bicéfalo do banco estatal. a presidência executiva é entregue ao até agora vice-governador do_banco de portugal, josé de matos. à semelhança do ministro das finanças, o novo líder da cgd destaca-se pela competência técnica e não pelo perfil político.

para vice-presidente da instituição financeira é indicado nogueira leite, actual conselheiro do primeiro-ministro e ex-secretário de estado independente no governo socialista de antónio guterres. os restantes membros da equipa eram ainda desconhecidos à hora de fecho desta edição.

a partir de agora, alguns dos ‘tronos’ mais cobiçados são os da ana, ctt, adp, aicep e do regulador das comunicações anacom. as nomeações mais urgentes são as das estradas de portugal, ctt e aicep, uma vez que os seus presidentes já abandonaram o cargo.

a ana e os ctt são duas empresas que o governo irá privatizar nos próximos tempos. nestes casos, segundo pedro_rebelo de sousa, presidente do instituto português de corporate governance, a nomeação deve cumprir critérios específicos.

«devem ser nomeados gestores que tomem medidas para colocar a empresa à venda ou então deve-se dar continuidade à actual gestão para esta finalizar o seu trabalho», defende o advogado.

no caso dos ctt, a hipótese de ser nomeado um grupo de gestores ganha força, pois actualmente apenas resistem três dos cinco elementos da administração e a saída do actual presidente provisório, pedro coelho, com 71 anos, é praticamente certa. «tenho de perguntar à minha mulher antes de decidir se fico», disse ao sol o gestor, em tom animado.

de saída também deverá estar o presidente da ana, guilhermino rodrigues. ex-governante socialista e um dos homens fortes da máquina do partido, não deverá ser reconduzido pelo actual executivo. a sua nomeação para o cargo – envolta num coro de críticas por parte dos comentadores e da oposição política, no início de 2005 – foi uma das primeiras efectuadas pelo então recém-eleito primeiro-ministro_josé sócrates.

a luta pelo controlo da aicep – agência para o investimento e comércio externo de portugal também se antevê renhida. o primeiro round foi travado durante a formação do governo, com a tentativa do líder do cds-pp, paulo portas, de tentar puxar a agência para o seu ministério dos negócios estrangeiros a ser bloqueada por passos coelho. o chefe do governo quer comandar aquele que tem sido um dos veículos do estado mais importantes na promoção externa das empresas nacionais. o antigo presidente, basílio horta, abandonou o cargo para ser deputado do ps.

na anacom, amado da silva está de saída, pois não pode renovar, por lei, o seu segundo mandato. este cargo deverá ser ocupado por uma personalidade com um percurso académico e empresarial reconhecido no sector das telecomunicações.

nomeações políticas podem acabar

por cumprir está ainda a tarefa de substituir os 1.211 dirigentes superiores da administração do_estado, nomeados pelo anterior governo. passos coelho pretende acabar com este método de ocupação dos cargos, garantindo espaço à abertura de concursos públicos.

«o essencial é estabelecer critérios para a ocupação destes cargos: formação, credenciais, experiência, entre outros», sugere rebelo de sousa. «estes processos devem assegurar que todos os cidadãos beneficiem de igualdade de oportunidades e todas as nomeações devem ser justificadas à população».

o sol sabe que o governo já começou a contactar algumas empresas de recrutamento – nomeadamente head hunters – para encontrar perfis adequados aos lugares disponíveis.

«acho muito bem, desde que os critérios sejam transparentes e que sejam contratadas três ou mais empresas para garantir a pluralidade», observa rebelo de sousa, que sugere ainda que cada ministro seja obrigado a elaborar, anualmente, um relatório sobre as nomeações por si efectuados, «distinguindo as nomeações que resultaram de um processo de pré-selecção e as que resultaram de escolhas pessoais suas».

frederico.pinheiro@sol.pt

tania.ferreira@sol.pt

*com joão paulo madeira