90% dos jovens desempregados não têm curso

A aposta no prolongamento dos estudos até ao final do ensino superior é uma defesa cada vez mais forte contra as dificuldades no mercado de trabalho. Segundo dados solicitados pelo SOL ao Instituto Nacional de Estatística (INE), quase 90% dos 124 mil jovens desempregados não possuem formação superior.

o desemprego está a um nível histórico em portugal, com a taxa a atingir 12,4% no primeiro trimestre do ano. e o pior cenário ocorre nos mais jovens: entre os 15 e os 24 anos a taxa de desemprego está em 27,8%, o valor mais alto de sempre. mas analisando as qualificações deste grupo de desempregados, verifica-se que a falta de trabalho incide, sobretudo, nos cidadãos que não têm curso superior. de acordo com o ine, apenas 13,6 mil desempregados, num total de 124 mil, acabaram a universidade. os restantes 90% completaram apenas o ensino básico ou secundário. apesar de não ser possível fazer comparações com estatísticas anteriores, devido a uma quebra metodológica do ine, verifica-se que a proporção de jovens não licenciados no desemprego nunca foi tão alta.

 

efeitos da recessão
mesmo na classe etária seguinte – desempregados entre os 25 e os 34 anos –, o panorama é idêntico. a taxa de desemprego está em 14%, acima da média nacional de 12,4%, e os cidadãos com menos estudos são novamente os mais afectados pela falta de trabalho, representando 77% do total.

para luís bento, consultor especializado em recursos humanos e docente na escola de gestão e negócios da universidade autónoma de lisboa, os dados revelados pelo ine evidenciam a recessão económica do país. «há dois anos havia uma taxa de desemprego elevada entre os detentores de cursos superiores e há agora uma inversão desta tendência. o principal factor é o encerramento de empresas nos serviços que absorviam muito empregados jovens não licenciados, como a restauração ou os call-centers», refere.

 

melhoria está distante
de acordo com o professor universitário, os afectados são os frequentadores de cursos profissionais ou pessoas que deixaram os estudos para trabalhar, por exemplo. e, nos próximos anos, não vê melhorias para esta faixa da população, uma vez que a actividade vai continuar a contrair. «o problema é que muitos destes desempregados não licenciados rapidamente se transformam em desempregados de longa duração».

de acordo com luís bento, continua a haver procura de pessoal qualificado em sectores específicos, como na engenharia ou mesmo em sociologia, devido ao crescimento de projectos relacionados com a economia social e solidária. «há anos que portugal tem uma singularidade: há empresas com falta de mão-de-obra, mas há falta de competências para ocupar essa oferta».

perante o perfil do mercado laboral do país, a directora de marketing e comunicação da católica-lisbon school of business & economics, joana santos e silva, destaca que o investimento em educação é um «factor crítico de sucesso» no mercado de trabalho. «num mundo cada vez mais competitivo, não só é necessário uma formação de base de qualidade, como é fundamental continuar a investir na formação», defende a responsável em declarações ao sol.

joao.madeira@sol.pt