Isolamentos térmicos para o espaço made in Portugal

Há uma empresa portuguesa que produz isolamentos térmicos para tudo o que voa no espaço, entre outros produtos e serviços, e que exporta 100%. Nasceu em 2007 e tem aumentado o seu volume de negócios a cada ano. Em 2011, a HPS Portugal (HPS P), sediada no Porto, deverá facturar 600 mil euros.

«em portugal, ninguém faz o que nós fazemos. na europa, são apenas duas as empresas que fabricam isto de forma dedicada, mas nós beneficiamos com a crise, porque as grandes empresas de produção de satélites fizeram desaparecer algumas áreas e esta foi uma delas. e nós somos mais competitivos», explicou ao sol pedro portela, sócio-gerente da empresa.

a criação da hps portugal resultou de um projecto de investigação do inegi – instituto de engenharia mecânica e gestão industrial, onde portela trabalhava, com a empresa alemã high performance space structure systems (hps). inicialmente, o capital social da empresa estava distribuído por estas duas entidades; hoje, pedro portela, então único colaborador, detém 15% do ‘bolo’.

«esse projecto correu muito bem e uma vez, durante um jantar, falávamos de oportunidades de negócio no sector espacial em portugal e constatámos que não havia nenhuma empresa a trabalhar na área dos compósitos, estruturas, mecânica e trabalhos específicos para a esa [agência espacial europeia]». os responsáveis do inegi e o engenheiro mecânico passaram «um ano a amadurecer a ideia» antes de avançar para o mercado.

o negócio da hps portugal distribui-se por três ramos de actividade, todos relacionados com o espaço: investigação e desenvolvimento de tecnologia para a esa, projectos para a indústria, para integração em produto final e serviços de engenharia para outras empresas.

os projectos para a esa «são projectos à factura», explica o empreendedor. «a esa lança regularmente anúncios de oportunidades que visam dar resposta a problemas concretos que a agência e o programa espacial europeu identificam». um dos projectos que a hps está a desenvolver para a agência espacial europeia é um material especial «para escudos na área da protecção térmica para reentrada de veículos que vão a marte». é um projecto de cinco anos que termina agora em 2011.

 

soluções feitas à medida

os projectos para a indústria representam 60% do volume de negócios e a hps ‘mãe’, que produz antenas e sistemas de telecomunicações para integrar em satélites e tem sede em munique, é o seu cliente principal. «não nos passou pela cabeça que a área dos isolamentos térmicos fosse um nicho tão interessante», confessa portela.

a empresa sediada no inegi transforma «filmes de plástico em isolamentos térmicos». o mesmo material é utilizado, por exemplo, na emergência médica, nas mantas com que os paramédicos embrulham as vítimas de uma catástrofe ou acidente para evitar que estas entrem em choque térmico.

«fazemos as provas, como os alfaiates. recebemos um primeiro modelo em 3d, fazemos o projecto em computador, imprimimos e vamos lá, ao cliente, fazer o que chamamos de fit check. depois, fazemos também a integração final», conta pedro portela.

a empresa também faz caixas de transporte para os equipamentos que voam no espaço. estas peças são «porcelana chinesa, manobradas por várias pessoas, devendo ser transportadas em condições de «humidade controlada» e com «sistema anti-choques». são estrututas feitas à medida.

a hps p tem cinco funcionários e, quando é necessário, recorre a dois colaboradores do citeve – centro tecnológico das indústrias têxtil e do vestuário de portugal, em famalicão.

um dos serviços de engenharia que a hps portugal presta é a criação de manuais para testes de equipamentos e materiais que vão voar no espaço. «tudo o que voa no espaço tem de ser testado, testado, testado. alguns testes estão estandardizados, outros não. e nós somos subcontratados por outras empresas para escrevermos um manual para executar esses testes e para os executarmos também», esclarece o gestor.

a hps portugal tem projectos em curso desde a sua criação no valor de 2 milhões de euros. em 2008 facturou 122 mil euros; em 2009 registou 326 mil e no ano passado chegou aos 432 mil. «até ao final de agosto vamos apresentar propostas de projectos industriais cujo valor pode chegar ao milhão de euros», avança. se estas candidaturas foram aprovadas, diz, a empresa terá de «pensar em investir», mas com parcimónia. «trabalhamos para o espaço mas sempre com os pés bem assentes na terra», remata pedro portela.

ana.i.silva.pereira@gmail.com