a terceira entidade é feita do património afectivo construído dia a dia, hora a hora, segundo a segundo, com a pessoa que amamos. é uma bolha com território próprio, às vezes do tamanho de uma célula, outras, comparável à dimensão do universo.
quando o amor é total, incondicional e brutal, a bolha cresce depressa. mas também é preciso que cresça de forma consistente, para não se encher de sonhos e de ar até rebentar no vazio, ou ceder ao peso da sua própria gravidade.
o segredo da terceira entidade consiste nessa capacidade inata, eterna e incansável de olhar todos os dias para o outro e de acreditar. acreditar que não podíamos ter tido mais sorte, que tudo o que sonhamos construir, se for bom para nós e o melhor para o mundo, vai mesmo acontecer. acreditar que o amor é feito de provas de amor e que é para isso que cá estamos, para vestir a camisola, para seguir em frente, definindo planos, e cumprir objectivos a dois, sem nunca deixar que o medo do desconhecido ou o cansaço da rotina minem o caminho. amar o outro é uma acção, muito mais do que uma contemplação. o amor é para se mostrar, fazer ouvir, para se corporizar em gestos, que nunca são nem grandes nem pequenos, porque todos são importantes.
amar é partilhar, é dar sem pensar, é receber e agradecer, é sonhar a uma só voz e partilhar tempo e espaço, viagens e casas, amigos e família, passado e futuro. é ter a coragem e hombridade de fazer tudo isto sem reservas, com o coração aberto, porque o coração é o nosso maior escudo. abençoados são os que conseguem avançar sem lança nem capacete, que caem e se erguem as vezes que forem precisas, que não deixam nunca de acreditar, que não baixam os braços nem fecham o peito e que se reconstroem depois de terem perdido tudo, porque acreditam que tudo na vida é uma aprendizagem, que tudo faz parte de um caminho que nos levará um dia ao destino que sonhamos, queremos e merecemos.
a bolha, essa entidade única que nos protege do mundo e nos faz sentir que juntos somos invencíveis, é dinâmica, por vezes caprichosa, tem o seu tempo e o seu modo próprios. há que ser humilde para aprender a sentir-lhe o pulso, dar-lhe tempo e espaço, ou enchê-la de cartas, de músicas, de abraços e de beijos, para que essa maravilhosa e única reacção alquímica que a fez nascer se mantenha intocável, fresca e pura na sua essência.
está sempre nas nossas mãos, que são quatro, cuidar dela com toda a atenção, amor e carinho, para que nunca rebente nem se perca no infinito. é preciso agarrá-la, amá-la e respirá-la todos os dias, como fazemos com os nossos filhos nos primeiros meses de vida, com o sono leve e o coração fora do peito, prontos para tudo o que der e vier.