Ódio de morte

Há dias estava ao balcão de um hospital quando uma mulher na casa dos 40 surgiu perturbada a questionar o empregado de serviço. Sem conseguir falar pausadamente, a mulher insurgia-se contra todos os funcionários, até que um se aproximou e lhe explicou onde teria de se dirigir para resolver o problema. Talvez pelo meu olhar…

 enquanto pensava no episódio, questionei-me por que razão todo o mal que acontece actualmente tem a ver com as limitações financeiras impostas pelos organismos internacionais à débil economia nacional. mas que raio é que terá a ver a troika com pessoas que são mal educadas e gostam de espezinhar os que, teoricamente, estão abaixo de si? e os condutores que insultam e põem em perigo os outros automobilistas? também é culpa da troika?

nesta altura do ano há comportamentos que, com ou sem troikas, são verdadeiramente inexplicáveis. como é possível alguém retirar a medicação a familiares doentes para que estes se sintam mal e sejam ‘despejados’ nos hospitais, por forma a não serem um empecilho para irem de férias? são pessoas desse calibre que abandonam, por exemplo, os animais domésticos, cães e gatos, por não poderem levá-los consigo para a casa, campismo, ou hotel que alugaram. para mim, esses actos são bárbaros e só os comete quem tem poucos ou nenhuns sentimentos.

sentimentos que não existem, seguramente, na cabeça do louco norueguês que matou 76 pessoas no passado fim-de-semana.tão louco que dizia-se ameaçado pelos islâmicos e comunistas e desatou a matar pessoas que nada têm a ver com esses ódios. matou cidadãos indefesos, fossem cristãos, muçulmanos ou hindus. pouco importa, o que é difícil de perceber é como alguém que terá tido uma vida sem grandes problemas carrega tanto ódio dentro de si que o faz matar orgulhosamente 76 pessoas. quando acontecem estes fenómenos logo aparecem alguns que explicam que a sociedade é que está a criar estes monstros. será? antigamente as sociedades ocidentais não eram muito mais bárbaras? em portugal, por exemplo, no início do século passado não era comum haver mortes por apedrejamento ou à sacholada? claro que nesses casos havia uma relação directa entre o agressor e o agredido. mas a fronteira entre a tolerância e o ódio sempre foi muito ténue.

p.s. amy winehouse morreu como viveu. no limite. não matou ninguém e espera-se que não inspire fãs a seguirem-lhe o caminho. a sua voz permanece.

vitor.rainho@sol.pt